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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Pedestrianismo: Restauradores da Granja estiveram na Linha do Tua


Texto e fotos: João Carlos Lopes

Eu “Show” Tua
- Mais de trinta mil passos sobre travessas
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Sob a organização de um grupo de pessoas ligadas à Mota-Engil, Engenharia, reuniram-se cerca de três dezenas de caminheiros, na sua maioria funcionários daquela empresa, para colocar no terreno uma ideia congeminada pelos empregados Jorge Carvalho e Abílio Teixeira, que era percorrer a linha do Tua desde a estação de Brunheda até à foz daquele Rio que o progresso irá transformar, brevemente, numa barragem. Os Restauradores da Granja marcaram presença nesta reconfortante actividade.
Esta aventura sobre as mais de 30 mil travessas da Linha Ferroviária do Tua, que foi inaugurada a 27 de Setembro de 1887, contou com a colaboração e apoio das Câmaras Municipais de Alijó, que inclusive colocou à disposição dos caminheiros um mini autocarro que os levou de regresso ao ponto de encontro, o estaleiro da Mota-Engil e ainda da congénere de Carrazeda de Anciães.  
O percurso estendeu-se ao longo de 21 km com a particularidade de se assistir a um namoro constante entre ele e ela. Ou seja, a linha ferroviária do Tua, mais altiva na sua disposição geográfica e o Rio Tua, comprido e vaidoso em toda a sua plenitude. Um rio que canta para a linha e para quem passa e que não deixa ninguém indiferente.
De um lado e doutro, grandes escarpas rochosas, com fragas monumentais ladeando um vale sempre belo e a perder de vista, com novas atracões e surpresas em cada curva.
Um a um foram sendo passados todos os apeadeiros. O bilhete foi tirado em Brunheda, mas deu para passar em Tralhão, São Lourenço, Santa Luzia, Castanheiro, Tralhariz e finalmente chegar ao Tua. Pelo caminho ficaram as pontes de Paradela, e o viaduto das Fragas Más e Presas. Mas mais monumentalidade foi apreciada, como os túneis da Falcoeira, Fragas Más I e II, Tralhariz e das Presas. Cada uma destas peças monumentais da linha estava carregada de simbolismo e sentimentalismo.
Pelo caminho, outros caminheiros faziam o percurso em sentido inverso, Tua-Brunheda, com um sorriso misto de alegria e tristeza estampado no rosto mas com uma grande satisfação por trilhar caminhos em que outrora se ouviam os comboios a chiar nos carris.
Alguns, a maioria dos acessórios da linha ainda lá estavam, como o mecos que assinalavam a distância por percorrer a cada cem metros, as placas de limite de velocidade ou de aproximação de zona onde havia agulhas para mudar de linha, entre outros pormenores como os pregos nas travessas a indicar o ano em que as mesmas foram colocadas no solo que suportava os carris. Tudo isto ainda em excelente estado de conservação. Só os carris da linha nos pareceram, aqui e ali, mais abandonados por falta de uso e de manutenção. Contudo, a mesma linha apresenta-se cheia de graça.
Por altura do quilómetro 7,8, em Santa Luzia os caminheiros tiveram oportunidade de tomar um pequeno-almoço reforçado, com presunto, queijo, pão-de-ló e outras iguarias que cada um levou e disponibilizou para todos. Junto dessa mesma estação, lá em baixo, na margem direita do Rio, estava o transfere que fazia a passagem de pessoas de uma para a outra margem. Só por questões de segurança não foi permitido pela autarquia local o uso dessa outra atracção do Tua.
São dois séculos de vida que em breve ficarão submersos e o rio que, andou este tempo todo a olhar para cima, vai poder, finalmente e forçosamente, beijar a linha em que via passar comboios lá do fundo do seu pomposo leito. O Vale do Tua vai ganhar outra configuração mas, quem teve a felicidade de fazer este trajecto jamais se esquecerá da beleza que o mesmo encerra e do espectáculo que é ver toda a maravilha da sua extensão.
Com o avançar das horas, o calor começou a apertar o que dificultou o trajecto para alguns dos participantes, nomeadamente, os que não tinham experiência nestas andanças. Na verdade, alguns fizeram a sua estreia neste percurso, situação que os marcará para sempre, pois ser batizados para o Pedestrianismo no Tua não está ao alcance de qualquer um.
A parte final, apenas com pedras e já sem travessas foi a mais difícil. Foram cerca de três quilómetros a calcar cascalho e a ver os preparativos para a bacia da barragem onde as máquinas anunciam para breve essa transformação. Aliás o Túnel das Presas já tinha uma porta em madeira, o que em breve impedirá a passagem de público por aquele local.
No final da caminhada o almoço foi servido na foz do Tua, com vista para o Douro, no restaurante Beira Rio. O momento foi aproveitado para reforçar o convívio entre os presentes e para o cicerone da marcha, Jorge Carvalho, distribuir algumas lembranças, nomeadamente literatura e pequenas garrafas de Vinho Favaios aos participantes numa oferta das autarquias atrás mencionadas.
A viagem de regresso a Alijó foi feita de autocarro e ainda houve uma paragem nessa mesma localidade para uma visita de circunstância, antes de se rumar ao ponto de encontro para o Adeus final, mas com promessa de repetir jornadas como esta.
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1 comentário:

César Cruz disse...

Parabéns pelo trabalho.
Abraço César Cruz