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terça-feira, 27 de maio de 2014

Opinião: Rogério Martins (GD Paços): Até parece que os meninos só têm pés!

Texto: Rogério Martins / Foto: DR
 
Rogério é muito mais que um presidente ou um
treinador é um amigo sempre presente
e disposto a ajudar

«Quem tem pressa pouco vê e pouco sente» 


- "Pôr o futebol ao serviço da criança e não a criança ao serviço do futebol!" 

- Até parece que os meninos só têm pés! 

- "Captações não deve ser sinónimo de ilusionismo e de negócio. O centro das nossas atenções deve ser a criança como pessoa em desenvolvimento".

Chega o fim da temporada e todos os clubes já estão a pensar no futuro. Para competir é preciso ter atletas, por isso, uns tentam segurar os seus atletas, outros tentam atrair os atletas dos outros. Será isto o futuro do futebol? Aproveitar o trabalho dos outros iludindo crianças. Não estou contra a ideia que os jogadores devem evoluir. Mas esta evolução não se deve limitar ao futebol, temos de cuidar do desenvolvimento integral das crianças: físico, intelectual e moral. Já não estou surpreendido com o discurso das ditas escolinhas quando vão atrás dos bons jogadores das nossas pequenas equipas, porque é sempre o mesmo: «tens futuro no futebol, no nosso clube vais ver, vais conseguir» e muitas crianças e pais deixam-se enganar. 

Nunca nenhuma escolinha veio ter comigo para me dizer «temos uma boa escola de formação podemos ficar com os jogadores mais fracos e daqui a 2 anos devolvemo-los mais fortes». Isto é que seria ser formação; pôr o futebol ao serviço da criança e não a criança ao serviço do futebol! Um bom professor não é aquele que ensina só os bons alunos, gabando-se de ter bons resultados, mas sim aquele que consegue acompanhar todos os meninos que lhe são confiados, sabendo motiva-los dando-lhes a mão para eles progredirem. Outra realidade que me faz sorrir, nunca nenhuma escolinha disse a um dos meus atletas «anda jogar para nós que aqui também tratamos da tua inteligência». Até parece que os meninos só têm pés! 

Não devemos ver os meninos unicamente através do futebol. Formar jogadores vai para além do ensino técnico-tático do jogo. Importa aprender através do futebol a ler e entender o mundo e a exercer a cidadania. O que exige mestres da educação e do saber e não "Misters da ignorância e da rotina", (Miguel Ribeiro Moita, a formação do jovem desportista, Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, 2008). Os adultos responsáveis dos clubes devem pensar o futebol de forma racional e paciente, respeitando o trabalho dos outros e uma certa deontologia. Por terem equipas federadas não lhes dá nenhum direito sobre as pequenas equipas. Pelo contrário, obriga-lhes a pensar ainda mais no processo de formação dos atletas. Não digo que todos os treinadores devem ser doutores, formados em Ciências da Educação, mas ninguém pode querer saber só de futebol. O que é verdade para os meninos é também verdade para nós dirigentes de clube. Para decidir é preciso saber; para saber é preciso formar-se e querer aprender. Ser treinador dos escalões de formação é exigente. Uma coisa é conhecer as regras do jogo e alguns esquemas de jogo, outra coisa é pensar no que estamos realmente a fazer. Jogar futebol não é brincar com os meninos.

Por isso, quando um responsável de outra equipa tenciona “contratar” um atleta, primeiro tem de falar com o seu treinador. Quem melhor do que um treinador atento aos “seus meninos” pode conhecer a situação de cada um deles e assim conseguir orienta-los melhor, tendo por objetivo o crescimento das crianças e não só os resultados desportivos da equipa. Depois não deve enganar os meninos com falsas promessas que vão destabilizá-los a nível psicológico, pensando que o futuro é o futebol, deixando a escola de lado. 

Outro estudo universitário: A formação do jogador de futebol e sua relação com a escola, Prof. Ms. Otávio Nogueira Balzano, Jannaina Sousa Morais, UFC/IEFES/NEPEC Brasil, mostra que «a permanência na escola dos jovens atletas futebolistas vem diminuindo cada vez mais no decorrer dos anos. Muitos meninos sonham em ter um futuro brilhante no futebol, e com o mesmo uma ascensão financeira, contudo após ingressarem em uma equipa de futebol, visando uma oportunidade de crescimento, muitas vezes acabam abandonando os estudos, e não chegam a concluir o ensino médio» e «é evidente que a dedicação aos estudos permite uma maior possibilidade de ocupação na vida adulta, mas sua recompensa está longe do imediatismo de muitos jovens». Também deixa aos responsáveis de equipas algumas dicas em particular lembra que «os clubes de futebol têm a obrigação social irrefutável de exigir dos seus atletas não só a frequência, mas o bom aproveitamento escolar. Estes devem deixar claro que, só joga quem estuda». 

Captações não deve ser sinónimo de ilusionismo e de negócio. O centro das nossas atenções deve ser a criança como pessoa em desenvolvimento.
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