.

.
.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

BTT-Down Hill: Entrevista a Carlos Santana treinador dos R. Granja/C. Óptico Fafe

Texto: João Carlos Lopes / Fotos: JCL e ACM      


Um raro exemplo de dedicação e sucesso


A equipa de BTT - Down Hill dos Restauradores da Granja/Centro Óptico de Fafe existe há 14 anos graças à extrema dedicação de Carlos Santana que consagrou uma boa parte da sua vida a uma modalidade que começou com a participação dos seus filhos, que entretanto abandonaram a equipa, mas que se prolonga para além deles, com muita dedicação e um trabalho ímpar, praticamente diário para que nada falte nos momentos mais importantes a uma modalidade diferente mas muito exigente a todos os níveis. Aos 58 anos, este Técnico da Câmara Municipal de Fafe ainda não sabe quando esta aventura vai terminar porque não quer defraudar os jovens e enquanto existirem resultados e os apoios necessários, bem como saúde, sente-se com energia para prosseguir a sua caminhada à frente da equipa. O Curso de Treinador de Nível II, que lhe permite treinar qualquer equipa de ciclismo a nível nacional, dá-lhe os conhecimentos necessários para orientar os RG/CENTRO ÓPTICO de Fafe, onde faz um pouco de tudo, desde a logística até ao transporte dos atletas e do material necessário para as provas. Já lhe passaram pelas mãos 45 pilotos, tendo obtido títulos nacionais e regionais e vencido provas internacionais. Este é um raro exemplo de dedicação, ambição e perseverança de um líder nato, cujo sucesso merece o respeito e aplauso de todos. Entretanto, depois desta entrevista ser feita e publicada no jornal Notícias de Fafe, os RG/CENTRO ÓPTICO FAFE obtiveram mais doii títulos nacionais, Diogo Pinto (Cadetes) e Emanuel Sousa (Juniores) e mais um título de vice-campeão nacional por equipas.  


Como surgiu o interesse pela modalidade? 

Surgiu com algumas participações dos meus filhos em provas de Down Hill. Depois, fui-me integrando na modalidade e na competição. Eles começaram a participar individualmente, na altura com 13 anos e, com o decorrer do tempo, fomos todos ganhando o gosto pela modalidade, isto há 14 anos. Sensivelmente no mesmo ano apareceram o Jorge Pereira (jó-jó) e o Cláudio Santos. Estes dois elementos juntamente com os meus filhos, Pedro e Tiago Santana, estiveram na génese da primeira equipa dos Restauradores da Granja. 

Porquê a integração nos Restauradores da Granja?

Porque era e é o Clube do bairro onde vivemos e na altura tivemos o apoio e a abertura do então presidente Alcides Lemos. Depois dele contamos sempre com o apoio das direcções que lhe sucederam até ao momento em que é dirigido por Gabriel Soares. 

E que tipo de apoio é esse? 

Para sermos federados temos que estar ligados a uma Colectividade que tenha estatutos próprios e devido à proximidade optamos pelos Restauradores. No entanto, esta secção tem um orçamento e autonomia próprios que resultam dos patrocínios que angariamos e de outros apoios que conseguimos obter, o que normalmente são pessoas das minhas relações, uma vez que não é fácil obter ajudas em tempo de crise. 

Qual as sua função dentro da secção?

Na secção faço de tudo um pouco, desde a logística até às camisolas, passando tudo por mim e um pouco pela minha esposa que presta apoio no decurso das provas e está sempre por perto para o que for necessário. 

Tem algum tipo de formação específica?

Tenho o Curso de Treinador de Ciclismo de Nível II, o que me permite treinar equipas de ciclismo a nível nacional nas várias vertentes que constituem a modalidade. Esse curso é multidisciplinar e vai desde a área de psicologia desportiva, passando pela alimentação e metodologias de treino até à orientação no terreno. Fiz o curso na primeira oportunidade que tive, um nível de cada vez, o qual foram promovidos pela Federação Portuguesa de Ciclismo, Associação de Ciclismo do Minho e que se realizaram perto do local de residência, nomeadamente em Guimarães e Felgueiras. Fi-lo por sentir necessidade de melhorar os conhecimentos para poder dar um melhor acompanhamento aos atletas. 

Que escalões comporta a secção?

Participamos em cinco categorias, Cadetes, Master 40, Master 30, Juniores e Elites. No total são nove pilotos que participam em provas, regionais, nacionais e internacionais. Ao longo da existência da equipa já passaram pelas minhas mãos cerca de 45 pilotos de várias idades que vão desde os 13 a mais de 40 anos. A título de curiosidade na próxima época vamos ter na equipa um piloto com 50 anos. Trata-se de José Rodrigues, actualmente Master 40, que venceu recentemente a última prova da Taça de Portugal em Ribeira de Pena e é um habitual do pódio no seu escalão. 

Ao longo dos anos a colectividade tem tido muitos campeões?

De facto temos tido atletas de grande valor. Já tivemos um Campeão Nacional na categoria de Master 30, Pedro Sarabando, cujo título foi conquistado em 2009. Tivemos ainda um vice-campeão nacional na categoria de cadetes, Pedro Santana, em 2004. Mais recentemente o cadete Diogo Pinto perdeu o campeonato na época passada por escassas cinco centésimas de segundo, tendo cortado a meta com uma avaria mecânica o que obstou a que conquistasse o título. Além disso temos tido todas as temporadas vários campeões regionais. A nível colectivo fomos campeões nacionais em 2006. Já vencemos nove vezes o campeonato Regional do Minho e em 2013 conquistamos o 2.º lugar na Taça de Portugal e a quinta posição no Campeonato Nacional. Além disso temos pilotos que já venceram provas internacionais como os casos de Diogo Pinto e Rui Teixeira, ambos na categoria de Cadetes. Há uma classificação que convém, igualmente, realçar e que se reporta a 2011 em que fomos vice-campeões Nacionais de Down Hill Urbano. 

O grupo parece ter uma actividade muito intensa?

Quando terminarmos esta temporada vamos ter 15 provas efectuadas, duas delas internacionais. Convém referir que já tivemos anos com mais actividade. As épocas desportivas normalmente começam em Março e estendem-se até Outubro. Porém, não podemos esquecer o tempo gasto nos treinos que se iniciam no primeiro fim-de-semana de Janeiro. Isto, se nos reportamos apenas à competição, porque a parte logística e todo o trabalho de rectaguarda é ininterrupto. 

Como são recrutados os pilotos?

Os elementos que já fazem parte da equipa são quem nos informam da existência de potenciais pilotos, e outros aproximam-se da equipa durante os treinos de preparação. Esses novos atletas acabam por integrar o nosso plano de treinos, sendo certo que alguns deles acabam por ficar. Convém referir que antes de entrarem em competição têm uma espécie de adaptação à competição que vai de um a dois anos, de modo a ser competitivos. Não podemos esquecer que se trata de uma modalidade que tem custos consideráveis de manutenção periódica. 

Sente que os seus pilotos podiam ou podem chegar mais longe?
Recentemente e depois da entrevista ser
realizada Diogo Pinto e Emanuel Sousa
sagraram-se Campeões Nacionais 

Na verdade eles têm valor para alcançar muito mais do que têm feito. No entanto, convém recordar que não há profissionais na equipa e que tantos os treinos como as competições são feitos nos tempos livres, uma vez os pilotos na sua maior parte são estudantes, e escola encontra-se em primeiro lugar e os restantes têm outras profissões. 

O BTT Donw Hill é uma modalidade perigosa?

Normalmente o Down Hill é visto como uma modalidade de loucos mas costumo dizer aos meus atletas que quem pensar que o mesmo é loucura estarão cá pouco tempo. Isto porque exige um elevado nível de concentração, uma boa preparação física que é complementada com trabalho de ginásio, sobretudo a partir da categoria júnior. Quero frisar que nesta equipa são cumpridas todas as normas de segurança exigidas e recomendadas pelos respectivos regulamentos. Riscos todos os desportos os têm e o Down Hill como é lógico não foge à regra. 

O concelho de Fafe tem boas pistas de Down Hill?

Fafe tem boas pistas para fazer Down Hill e acabamos por ter sorte porque os concelhos limítrofes também as têm, o que nos permite variar e escolher a intensidade do treino.

Como tem sido possível manter a equipa tanto tempo em actividade?

Ao longo da nossa existência temos tido sempre patrocinadores e amigos que nos têm permitido esta aventura, aos quais desde já agradecemos porque é uma modalidade que foge dos padrões habituais. Na presente temporada os nossos principais patrocinadores são a Câmara Municipal de Fafe, o Centro Óptico de Fafe, Ambiestudos, Berci, Brevintervalo, Bike Smile, Cunha & Mendes Cunha, Davitex, Fantasycode, Jopedois, Natural Nutrition, Oberndorfer, Patcholand, P&G, RTI, Santana’s e a Spidycat, além de muita gente anónima. De referir, ainda, que alguns atletas já conseguem angariar patrocinadores próprios que os ajudam a custear o material e equipamento. 

Até quando pensa manter este projecto?

Apesar de ter começado com a participação dos meus filhos quero frisar que já desde 2010 que os mesmos deixaram de competir. A minha consciência não me permite parar só porque eles já não fazem parte da equipa. Depois de se criar expectativas nos jovens não é fácil defraudá-los uma vez que existem resultados e temos tido a felicidade de angariar patrocinadores. Com os dois ingredientes já referidos, a nossa boa vontade e saúde vamos levar a equipa até onde pudermos.
.

Sem comentários: