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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Onde pára a Geração de Ouro da formação da AD Fafe?


Texto e fotos: João Carlos Lopes

Esta geração não tem paralelo no Clube 

Era uma equipa de antes quebrar que torcer

Após uma pesquisa aos plantéis da AD Fafe nas últimas temporadas verifica-se que nenhum jogador que tenha subido da formação aos seniores se fixou no onze inicial do Clube e não é por falta de valor. Alguns deles foram autenticamente descartados em detrimento da contratação de jogadores de valor inferior mas “com mais experiência”. Enquanto jornalista segui o trajecto de muitos destes jogadores e não teria adjectivos suficientes para os qualificar principalmente a partir de juvenis, assisti à vitória épica no Campeonato Distrital de Juvenis em Vila Verde, com um golo fantástico de Serginho com a colaboração e o esforço de toda a equipa.
Era uma equipa de antes quebrar que torcer. Cada jogador que caía levantava-se rapidamente para poder ajudar os companheiros. Vi o Rui Rampa partir os dentes com um pontapé que levou de um adversário e a prosseguir o jogo até ao final; vi o Zé Brochado com uma clavícula deslocada e a querer prosseguir o jogo para ajudar a equipa; vi o Pedro Mota a dar tudo o que tinha até aos limites e a motivar a equipa dentro de campo. 

Vi o Luís Cunha, o Zé Marçal e o Nuno Preto a fazerem defesas fantásticas e a darem o corpo às balas. Vi a equipa toda a jogar cada jogo como se fosse o último, muitas vezes em condições adversas, enterrados em lama no relvado natural do campo n.º 2. Vi alguns dos pais dos jogadores a seguirem-nos para todo o lado como se de uma religião se tratasse e vi muito público a apoiar e rejubilar com esta geração. Aquela final de juvenis em Vila Verde com a bancada do campo Cruz do Reguengo completamente cheia, não me sai da memória, foi épico. Ainda me recordo como se lá estivesse das gaitas barulhentas e artesanais feitas pelo senhor Vítor Sampaio, que faziam mais barulho que as “vuvuzelas”. Nesse ano os jogadores fizeram alguns jogos no ainda pelado campo do Pica.
Neste jogo Brochado
queria continuar a jogar

Recordo-me como se fosse hoje de um grande jogo que fizeram em Famalicão com uma exibição fantástica de Pedro Castro, que marcou golos decisivos nesta geração, bem como João Miguel Soares o matador da equipa que marcava com arte e festejava com elegância. Não me esqueço da arte de Diogo Costa que passava com facilidade a bola por cima dos adversários e ia buscá-la mais à frente e também da raça e qualidade de João Miguel Alves, Marcelo Nogueira, Joel Sousa, Diogo Cunha “Toca”, Rui Leite, Pedro Mendes, João Pedro Freitas e Fábio Rafael. Era uma geração com garra e determinação com alma e coração e que sentia o emblema do Fafe como nunca vi mais ninguém sentir nas gerações anteriores nem nas seguintes e posso dizer que vi muito bons jogadores na formação em três décadas de jornalismo. Esta geração, por tudo o que ganhou e que fez merecia uma placa na entrada do Estádio, com os nomes de todos os jogadores que a representaram e que perpetuasse para sempre os seus feitos, a sua raça, a sua atitude e a dignidade com que representaram a AD Fafe. Eles sim, foram os verdadeiros artistas, sem qualquer dúvida a melhor geração de futebolistas de todos os tempos que o Fafe teve, uma verdadeira GERAÇÃO DE OURO. 

Onde pára essa Geração de Ouro da formação da AD Fafe? Fizemos uma pesquisa sobre o que sucedeu a cada um dos principias jogadores dessa equipa, pelo que desde já agradecemos a colaboração de Pedro Mota, também ele um pérola dessa geração.

Muita gente se deve questionar: Porquê geração de Ouro? Esta equipa foi campeã Distrital no 1.º ano de Infantis; no segundo ano no mesmo escalão ficou em 2.º lugar; no primeiro ano de Iniciados ficou em 2.º lugar e no segundo foi campeã; no 2.º ano de juvenis também foram campeões Distritais; no 1.º ano e 2.º ano de juniores foram à fase final de subida e estiveram a um escasso ponto de subir à primeira divisão Nacional, tendo perdido o último jogo no Estádio do Bessa aos 87’ minutos, num ambiente hostil em que foram lançados dois petardos para junto do banco da AD Fafe. Mais ninguém ganhou tanto durante a sua passagem pela formação da AD Fafe. Porém, quase todos eles estão esquecidos, outros foram empurrados e os que restam na equipa principal do Clube não têm as merecidas oportunidades. 

Falamos com os dois grandes capitães dessa geração, Rui Rampa e João Vítor Sampaio e com o último treinador dos mesmos, Miguel Paredes. Vale a pena ler os seus depoimentos. 


RUI RAMPA 

Que memórias guarda dessa geração?

Rui Rampa
“Desta geração guardo muitas memórias, todas elas as melhores e sem dúvida foi tanto para mim como para os meus colegas uma geração marcante não só a nível pessoal como desportivo. As que mais saliento são a final do campeonato distrital de juvenis, em Vila Verde contra o Gil Vicente onde conseguimos alcançar uma subida de divisão para o campeonato nacional daquela maneira sofrida que foi, que só com um grupo assim era possível, isto porque havia gente lesionada a jogar, havia jogadores com caímbras, mas o nosso apoio dentro e fora do campo era tanto que apesar do sofrimento, nós conseguimos aquilo que mais desejávamos. O que mais marcou também foi o último jogo em casa frente ao Santa Clara (Juniores), isto porque sabíamos que era o nosso "fim", já não íamos voltar a jogar todos juntos e no final do jogo apesar de nos termos mentalizado antes que não íamos ficar tristes com o desfecho do campeonato (porque estávamos mais uma vez a lutar para subir e não o conseguimos neste jogo), mas íamos sair felizes e de cabeça levantada por todo este percurso desta geração maravilhosa, mas isso não aconteceu porque o que nos dava mesmo prazer era jogar futebol todos juntos. Estes foram os momentos mais marcantes nesta geração pelo menos na minha opinião a nível desportivo. A nível pessoal o mais marcante foi ter ali naquele grupo uma segunda família e quanto a isso acho que não é preciso dizer mais nada. "Mais que um grupo, uma família".

Na sua opinião esses jogadores mereciam outra atenção por parte dos responsáveis do Clube?

Na minha opinião acho que pelo percurso que esta geração fez, merecíamos claramente outra atenção por parte dos dirigentes do clube, porque havia talento e isso estava à vista de todos e não estou a falar só do percurso em que eu estive presente (Juvenis), falo também nos escalões mais inferiores onde os meus colegas se destacaram. Ainda assim, no ano em que saí dos Juniores, três jogadores ficaram nos seniores, mas as oportunidades destes foram escassas e acho que é neste aspecto que o clube falha, dar oportunidades aos jogadores que vêm das camadas jovens. Todos os anos saem jogadores de qualidade dos Juniores do Fafe, porque não aproveitá-los? Porque não apostar em jogadores da terra? Acho que se podia construir um bom plantel a partir de alguns jogadores que saem dos Juniores do Fafe e acredito que da minha geração se ficassem mais jogadores que aqueles que ficaram, o clube não ficaria a perder, pelo contrário, só era bom para o Fafe. Foi pena porque foi a minha geração e eu gostaria de ver muitos mais a representar o clube da terra, mas nunca se sabe o que o futuro reserva e pode ser que um dia vejamos muitos jogadores desta geração a vestir as cores da AD Fafe.
João Vítor Sampaio

JOÃO VÍTOR SAMPAIO

Que memórias guarda dessa geração?

Guardo uma imensidão de memórias. São amigos para a vida, fantásticos individual e colectivamente. Conseguíamos conciliar a responsabilidade com o divertimento e sempre que chegava a hora do treino sentíamos uma felicidade enorme uma vez que nos completávamos e o futebol unia-nos. Quando reencontro algum colega da geração de ouro sinto-me preenchido imediatamente porque sei que aquela pessoa me quer muito bem e o sentimento é recíproco. Seria errado recordar aqui algum momento em especial, por isso não o vou fazer.

Na sua opinião esses jogadores mereciam outra atenção por parte dos responsáveis do Clube?

Penso que a nossa geração tinha muito potencial, sendo que não tenho dúvidas em afirmar que parte dela foi subaproveitada. No entanto, procurando ser o mais sincero possível, sinto que alguns de nós não tinham o necessário para prosseguir uma carreira futebolística e dou o benefício da dúvida aos responsáveis do clube, sendo que quatro dos meus colegas ficaram no plantel principal, plantel este o melhor que me recordo de ver na AD Fafe (2011/2012). Sinto que com os orçamentos de hoje alguns de nós teriam outra sorte, mas admito que o Fafe estava muito bem servido no nosso ano de transição. Termino salientando que muitos de nós tinham qualidades únicas e isso é facilmente visível quando o Zé Brochado veste a camisola: um amor ao clube enorme, que pode ganhar muitos jogos.


Miguel Paredes
MIGUEL PAREDES (último treinador)

Que memórias guarda dessa geração?

São memórias fantásticas... jogadores com qualidades acima da média, mas igualmente excelentes estudantes e "homens". Tiveram um grande trajecto na formação da AD Fafe, sagrando-se campeões em vários escalões e foi um orgulho enorme, eu e o Sérgio Cunha, termos sido seus treinadores. Tivemos momentos maravilhosos, conquistas importantes, como o título da AF Braga de juvenis, com um golo do Serginho no prolongamento, outros momentos não tão felizes como termos sofrido um golo no Boavista aos 90 minutos, golo esse que nos retirou a subida história à 1.ª Divisão do Campeonato Nacional de Juniores. Penso que o que marcava verdadeiramente esta geração era a amizade e o espírito de grupo que todos tinham, e essa amizade era transportada para dentro do campo, tornado essa equipa, num conjunto de guerreiros prontos a lutar pela vitória e dando seu esforço em prol da equipa e dos colegas. Recordo igualmente que esta geração teve igualmente um grande apoio dos seus familiares que sempre estiveram presentes, nos bons e maus momentos e contribuíram para cada vitória que as equipas iam conquistando, num exemplo para todos os pais de atletas jovens. Gostava de aproveitar este momento para deixar uma palavra, em jeito de homenagem, a um grande homem que infelizmente já não está entre nós e que é pai do João Vítor, capitão desta geração, e que em todos os momentos apoiou o seu filho, restantes jogadores e equipa técnica. Esse homem era o Vítor Sampaio, e afirmo com total convicção que era um exemplo do que deve ser o comportamento no desporto, na sociedade e em família. A sua partida foi um duro golpe para todos que com ele privavam, ma felizmente deixa descendência de que se pode orgulhar.

Na sua opinião esses jogadores mereciam outra atenção por parte dos responsáveis do Clube?

Como é evidente tenho a minha opinião relativamente a essa matéria, no entanto, só quem diariamente convive com os atletas poderá explicar a razão de nenhum se ter afirmado ainda no plantel sénior. Esperava uma maior rapidez na afirmação de um ou outro, mas volto a dizer-lhe que cada caso é um caso e existem muitos factores que podem condicionar essa afirmação. O que lhe poderei dizer de uma forma concerta é que gostava muito de voltar a trabalhar em Arões com alguns deles, mas também sei que é uma situação difícil de concretizar.

AFINAL ONDE ESTÃO ESTES RAPAZES?

NOME/ ONDE ESTÁ / O QUE FAZ 

PEDRO MOTA - Coimbra, estudante de Direito e representou a AAC/OAF Sub-23; 

JOSÉ BROCHADO - Porto, estudante de Medicina e representou a A.D.F; Rui Peixoto "Rampa" - Fafe e representou o A.C.D. Pica;

JOÃO VÍTOR SAMPAIO - Porto, estudante de Economia e representou o Grupo Nun'Alvares (futsal); 

RUI LEITE - Coimbra, estudante de Engenharia Civil e representou o S.R. Cepanense (futsal);

JOÃO MIGUEL ALVES - Bragança, estudante de Engenharia de Energias Renováveis, não está a jogar actualmente; 

“SERGINHO” CONÇALVES - Fafe, estudante de Educação Física e representou o O.F.C Antime; 

JOEL SOUSA - Fafe, Sócio-gerente num ginásio e actualmente a disputar o Campeonato Nacional de 4x4 (Troféu Suziki), não está a jogar futebol;

NUNO "PRETO". Fafe, estudante e representou o G.D Silvares; 

DIOGO CUNHA "TOCA" - Kosovo, a desempenhar uma missão ao serviço do Exército Português; 

PEDRO MENDES - Coimbra, estudante de Engenharia Mecânica e não está a jogar actualmente; 

JOÃO MIGUEL SOARES - Fafe, estudante de Educação Física e representou o Amarante FC; 

LUÍS CUNHA - Paris, Técnico de Electricidade, não joga de momento; 

PEDRO CASTRO - Fafe, representou a A.D. Fafe; 

MARCELO NOGUEIRA - Fafe, trabalha, em part-time no ramo têxtil e também não joga actualmente; 

JOÃO PEDRO FREITAS - Viana do Castelo, estudante de Enfermagem, não joga de momento; 

DIOGO COSTA - Vila Real, ao serviço do Exército Português e não joga; 

FÁBIO RAFAEL - Fafe, representou a A.C.D. Pica 

JOSÉ MARÇAL - Fafe, representou a A.D. Fafe

RUI RAMPA – Vila Real, estudante universitário, representou a ACD Pica 
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