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sábado, 13 de junho de 2015

Entrevista: António Pereira, Treinador do GD Travassós

Texto: João Carlos Lopes / Fotos: João Carlos Lopes - Ricardo Castro e Gil soares


“Nem na adversidade deixamos que a união se desfizesse”

O treinador António Pereira (Toninho) foi o responsável pela subida do GD Travassós à Divisão pró-Nacional da AF de Braga, tendo herdado o lugar de técnico com a época em andamento e numa altura em que a equipa tinha sido subtraída de peças influentes. Com o empenho e dedicação que lhe são reconhecidos e uma alma do tamanho do mundo, digna de um “Senhor Balneário” conseguiu colocar o barco em águas serenas e levá-lo a porto seguro no final da temporada, juntando à subida o título de campeão, em ano de estreia como treinador e ao mesmo tempo de despedida de jogador, o que fez, com um golo no último jogo, aos 40 anos. O antigo praticante de ténis de mesa e de futsal fez um percurso digno de registo no futebol, tendo passado por clubes nacionais e em escalões que hoje correspondem à II liga. Em todos os clubes deixou a sua marca futebolística e humana. Passou por clubes como o Ribeirão, Leixões e Freamunde todos na 2.ª Divisão, actual II Liga, entre muitos outros. O homem que um dia sonhou ser motorista de longo curso acabou por ter uma longa carreira como atleta e já iniciou a de treinador com sucesso. Natural da freguesia de Oliveira do Castelo, em Guimarães, é um conquistador nato. 

Jogou sempre futebol na sua vida de desportista?

Cheguei a jogar ténis de mesa no GD Oliveira do Castelo e Vitória SC desde os nove anos até aos 16 mas conciliava com o Futsal que praticava no Fonte Santa e posteriormente na Lasa e só cheguei ao Futebol de 11 já com idade de Sub 19, que na altura era o último ano de Júnior e fi-lo no Campeonato Nacional da 1.ª Divisão pelo FC Vizela. 

O que gostava de ser quando era novo?

Sempre tive duas paixões, a primeira era ser jogador de futebol profissional e a segunda era ser motorista de longo curso, em camiões TIR, por causa de uma música que ouvia na altura com videoclip do Roberto Carlos que era o Camioneiro, tinha eu cerca de nove anos. Acabei por ingressar na Rádio aos 15 anos e já me encontro a trabalhar na Rádio Santiago desde então, ou seja há 25, que por ironia coincide com a minha data de aniversário que é 9 de Junho. 

Conciliou sempre a actividade profissional com o Futebol? 

Foi isso que fiz, embora por vezes com muita dificuldade nomeadamente nas passagens pelo Leixões, Freamunde e Ribeirão todas na 2.ª Divisão Zona Norte, que correspondiam à actual Segunda Liga. Vesti ainda as camisolas do Águias de S. Romão, CD Ponte, FC Vilaverdense, FC Amares, GD Terras do Bouro, União Torcatense, Arões SC e finalmente GD Travassós. 

Não tinha terminado a carreira de futebolista quando saiu do Arões SC?

De facto assim foi, pois na altura recebi um convite para director desportivo do Torcatense, onde tinha sido cinco anos capitão, a que anui, permanecendo nessa qualidade um ano. Seguiu-se um ano sabático e depois surgiu o convite do CD Ponte que regressou ao activo após um interregno de três épocas e os seus directores falaram-me ao coração e ainda bem que aceitei porque fui capitão de equipa e campeão apenas com uma derrota, seguindo-se outro título, este já no GD Travassós como treinador e jogador. Durante este meu regresso ao futebol cheguei a estar catorze meses sem perder para o campeonato. 

Como surge a sua vinda para o GD Travassós?

Na verdade, depois de sair do Ponte tinha assumido um compromisso com o GD Selho. No entanto, surgiu o convite do Paulo Soares e do Joaquim Meirim que me pediram apara ajudar porque estavam com dificuldades em construir o plantel, o qual aceitei e agradeço aos dirigentes do Selho por me terem libertado. 

Como caracteriza o plantel do início da época?

No início da época havia muitas incertezas e um plantel praticamente com dois extremos, com muita juventude e veterania e o objectivo era essencialmente participar e fazer o melhor possível, dignificando o Clube com os jogadores mais velhos a ajudarem os mais novos a ganharem experiência. No início a nossa grande meta era unicamente a manutenção e nessa altura nem nos passava pela cabeça que fosse possível subir de divisão. No entanto encaramos cada jogo com seriedade, sem pressão e os resultados foram aparecendo com naturalidade. 

O Travassós que terminou a época era o mesmo que a iniciou? Que diferenças existiram?

Na verdade a equipa foi sendo equilibrada com a entrada de jogadores mais experientes como os casos de Filipe Gonça que era trinco, Tozé, médio ofensivo, e o Rui Ossos, avançado, três jogadores que vieram trazer muita qualidade aos respectivos sectores e que acabaram, juntamente com os que já lá estavam, por dar outra qualidade e consistência à equipa. 

Em Novembro surgiu-lhe um convite para treinar os Juniores do Pevidém SC?

Isso foi público e só aceitei o convite depois de uma conversa com o treinador do Travassós, Paulo Soares, o qual me incentivou a aceitar mas para o fazer sem nunca abandonar o GD Travassós. Esse período revelou-se uma missão muito difícil e exigente. Durante dois meses não tive um único dia de folga, pois ministrava treinos num lado, treinava no outro e tinha que conciliar ainda os jogos da equipa que treinava e da que jogava, além da minha actividade profissional. 

Acabou por herdar o comando técnico da equipa do Travassós. Alguma vez lhe tinha passado isso pela cabeça?

Nunca me tinha passado pela cabeça até porque a equipa era treinada por um treinador que se confunde com o próprio nome do Clube dada a afinidade que criou com o mesmo e com os seus adeptos. No entanto, surgiu-lhe a oportunidade de abraçar um projecto numa equipa do Pró-Nacional e o Clube libertou-o. Na altura fui convidado para assumir o comando técnico da equipa pelo director desportivo Filipe Silva com a anuência do ex-treinador. Volvidos cinco minutos da saída do Paulo Soares aceitei o convite que me foi formulado e para não defraudar o Pevidém mantive-me a treinar os juniores desse Clube por mais um mês, em regime de acumulação. 

Foi fácil passar de colega a chefe de equipa?

Foi mais fácil do que aquilo que possam imaginar pois na verdade os jogadores que por acaso eram meus colegas de equipa foram excepcionais e compreenderam a mudança e tudo fizeram para me ajudar, o que me deu ainda mais ânimo para trabalhar e dar continuidade à boa época que o Clube na altura já estava a fazer, sendo mesmo a surpresa do campeonato. Posso até revelar que mesmo antes de termos garantido a subida e o título os jogadores me disseram que se eu continuasse a técnico na época seguinte que ficariam no clube. 


Acabou por ficar sem Lapinha, umas das figuras de proa do Travassós. O que representou isso para si?

Essa saída do Lapinha foi um grande revés para a equipa e para a motivação da mesma pois a forma como ele saiu apanhou toda a gente de surpresa e ainda hoje não sei ao certo qual a razão da sua saída sabendo que o mesmo tudo fez para continuar no clube. 


Houve uma fase em que o Travassós vacilou um pouco o que fez acreditar os adversários mais directos, a que se deveu?

Essa quebra coincidiu com a saída do Lapinha, aliada à de Filipe Gonça que saiu por uma melhor proposta. Duas grandes baixas que obrigaram a rectificar a equipa, que estava formatada para jogar de determinada forma em função desses dois jogadores e foi preciso fazer alterações significativas que demoraram algum tempo a serem assimiladas e mecanizadas, daí haver algum reflexo nos resultados. 


Após as derrotas em Pedralva fora e Urgeses em casa tiveram que dar o grito?

Essas derrotas abalaram-nos nas não nos derrubaram e serviram para irmos buscar forças que nem sabíamos que tínhamos para prosseguir a nossa caminhada que a determinada altura começou a apontar para a subida de divisão e posteriormente para o título. A resposta a essas derrotas foi cabal, pois vencemos o S. Cosme nos Carvalhinhos por 6-1 e fomos a Regadas, num campo extremamente difícil, em tempo de chuva e num pelado complicado, contra uma equipa muito bem orientada por Francisco Castro, vencer por 3-1, tendo feito nessa partida a melhor exibição da época que acabou por ser o clique para, uma semana depois, fazermos a festa de campeão em casa com o OFC Antime, quando ainda faltavam três jornadas para terminar a temporada. 


Que comentários lhe merecem os outros adversários de Fafe?

AP - Este época tivemos um Antime e um Pica muito fortes que valorizaram e muito o nosso título de campeão pois além de adversários eram concorrentes directos e proporcionaram grandes jogos. Fomos felizes em alguns deles e categóricos noutros. Mas como sempre digo, a sorte e a felicidade também se procuram e acabamos por ser dignos naquilo que alcançamos. 

Qual foi o segredo do sucesso, uma vez que o Travassós conseguiu surpreender tudo e todos?

O segredo foi convivermos sempre como uma verdadeira família, aliás a equipa era conhecida por “La Família”, dada a grande coesão interna que acabou por nos levar à glória. Demos sempre tudo o que podíamos dentro do campo. Aliás, transportamos a união do balneário para as quatro linhas. Nunca demos um lance por perdido e mesmo na adversidade não deixamos que a união se desfizesse. Quero realçar que sob o meu comando técnico todos os jogadores mais jovens tiveram a oportunidade de jogar. 


Tendo sido um treinador de recurso estava à espera do convite para continuar?

Na mesma semana que aceitei o convite para pegar na equipa o vice-presidente Rui Castro transmitiu-se que fosse qual fosse o desfecho da época seria eu o treinador da época seguinte, o que veio a suceder. Aproveito para realçar o trabalho meritório a todos os níveis deste director, que foi a pessoa da Direcção com quem lidei mais estreitamente e que nunca me deixou faltar nada. Quero frisar também o grande amor que o presidente José Fernandes tem ao Clube porque é graças a ele que o GD Travassós consegue estar ao mais alto nível no futebol distrital. É um homem com um coração enorme que vive e respira o GD Travassós. Não me posso esquecer do trabalho incansável do meu adjunto Armando Costa que foi uma ajuda muito preciosa.

Despediu-se da carreira de jogador com uma vitória e um golo no mesmo clube e na mesma época que iniciou a de Treinador de Seniores. Que significado tem para si?

Foi uma despedida que nunca imaginei e como se costuma dizer foi a “cereja no topo do bolo”. Aliás eu era a única pessoa que sabia que ia jogar a titular nesse último jogo, não fosse eu o treinador (risos). Não tenho problemas nenhuns em reconhecer que me despedi do futebol federado em lágrimas, as quais eram um misto de tristeza porque ia deixar de fazer aquilo que fiz com paixão durante mais de trinta anos e de alegria por ter marcado um golo que por sinal foi o primeiro da equipa neste jogo contra o Ruivanense, que ganhamos por 4-0. O momento em que marquei esse golo tornou-se inesquecível pela envolvência que provocou, com toda a gente a abraçar-me e a felicitar-me o que de certa forma sintetiza aquilo que foi a minha passagem pelo futebol. 


Que Travassós podemos esperar em 2015/2016? 

AP - Partindo do princípio que o campeonato é muito mais exigente, o segredo do Travassós poderá estar no facto de ter mantido praticamente a mesma equipa, reforçando alguns sectores com jogadores de créditos firmados e que se identificam perfeitamente com o espírito do grupo. Já temos o plantel fechado com a apresentação marcada para o dia 13 de Junho.

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