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quinta-feira, 24 de junho de 2010

Arbitragem fafense em alta

Entrevista: João Carlos Lopes/Foto: Tiago João Lopes

Jorge Ferreira atinge a 1.ª categoria aos 32 anos

Aos 32 anos o fafense Jorge Ferreira ascendeu à 1.ª Categoria Nacional na arbitragem, atingindo este patamar, oito épocas após ter feito o primeiro jogo como árbitro dos nacionais. O antigo presidente do Núcleo de Árbitros de Futebol de Fafe está ciente que só atingiu este nível porque também teve auxiliares de qualidade, ainda que estes tivessem sido escolhidos por si. Agora só lhe passa pela cabeça não defraudar as expectativas daqueles que vêm qualidade suficiente no seu trabalho para apitar no mais elevado grau de exigência do futebol português. Ainda que se sinta nas nuvens com esta promoção, Jorge Ferreira parece ter os pés assentes na terra. Montelongo Desportivo entrevistou o árbitro fafense do momento.


COM QUE IDADE SE INICIOU NA ARBITRAGEM?

O primeiro contacto que tive na arbitragem foi
aos 18 anos. Fi-lo por vontade própria, apresentando-me no Núcleo de Árbitros de Futebol de Fafe, na altura com sede na Casa da Cultura, para fazer o curso de árbitro.

QUANTO TEMPO DEMOROU ESSE CURSO?

Foram cerca de três meses a ter aulas teóricas e na altura apenas sabíamos se ficávamos aprovados ou não para ser estagiários de árbitros, desempenhando as funções de assistentes de árbitro. Ainda me recordo do primeiro jogo, foi um Torcatense - Santo Estevão, a contar para a 1.ª Divisão Distrital, tendo terminado com um empate a uma bola. Foi um jogo um pouco conflituoso por parte da assistência com contestação à arbitragem.

NÃO LHE APETECEU DESISTIR LOGO NO PRIMEIRO JOGO?

Pelo contrário, ainda me deu mais motivação pois sabia que no início não ia ser fácil. O chefe de equipa era o António Teixeira e o outro assistente António Novais que me deram o apoio necessário, ânimo e coragem para continuar. Nessa época também fiz parte da equipa de Leites da Silva e depois do Hélder Castro.

AINDA SE RECORDA DO PRIMEIRO JOGO COMO ÁRBITRO PRINCIPAL?

Será difícil esquecer esse jogo porque foi precisamente no mesmo campo em que me iniciei na arbitragem, em S. Torcato. Apitei um Vitória de Guimarães – Maria da Fonte, na categoria de iniciados, com os vitorianos a vencerem por 2-1 e o jogo a correr sem qualquer incidente.

DADOS DOS PRIMEIROS PASSOS O QUE SE SEGUIU?

Apesar de ter de cumprir o serviço militar obrigatório continuei a apitar, tendo feito equipa com Armindo Barros e Inácio Pereira, (este último é, actualmente, árbitro assistente da Liga Profissional) isto na 2.ª Divisão Distrital, no meu segundo ano na arbitragem.

QUANDO TEVE O PRIMEIRO CONTACTO COM OS CAMPEONATOS NACIONAIS?

Logo na minha terceira época na arbitragem, fui convidado para árbitro assistente de Júlio Loureiro, que apitava na 3.ª Divisão Nacional. Nesse mesmo ano ascendi à 1.ª Divisão Distrital depois de obter um sexto lugar na classificação. Mantive-me duas épocas como assistente na 3.ª Divisão Nacional, tendo ficado em 17.º classificado na 1.ª época na 1.ª Divisão Distrital.

O QUE ACONTECEU QUANDO JÚLIO LOUREIRO ABANDONOU COMO ÁRBITRO?

Nessa altura formei equipa com Inácio Pereira e José Luís Peixoto na 1.ª Divisão Distrital e terminamos a época em sexto lugar. Na época seguinte, devido a problemas de saúde do José Luís, este foi substituído por Cristiano Teixeira. No final dessa época ficamos em 1.ª lugar. No entanto existiu um recurso que nos relegou para segundo tendo atirado o segundo classificado para sétimo lugar.

QUANDO ASCENDEU COMO ÁRBITRO À 3.ª DIVISÃO NACIONAL?

Foi na época 2001/2002, com um jogo Vila Pouca – Montalegre, que por acaso não foi de boa memória. Os da casa venceram por 3-1 mas houve três expulsões, uma para o Vila Pouca e duas para o Montalegre. Por aí se vê que foi um jogo complicado, também devido à minha falta de experiência a este nível.

NÃO COMEÇOU MUITO BEM MAS FOI MELHORANDO GRADUALMENTE?

Seguiram-se sete épocas neste escalão (3.ª Divisão Nacional) onde deu para ganhar experiência e muito calo. Após isso, subi à 2.ª Divisão B, em 2008/2009 e em 2009/2010, atingi os quadros da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, mais conhecida como primeira categoria.

QUAL A SENSAÇÃO DE ATINGIR ESTE PATAMAR?

É uma sensação única e inexplicável. No entanto estou ciente que tudo isto é fruto do nosso trabalho (meu e de todos os assistentes que tive) o que me dá uma sensação de dever cumprido mas, ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade de não defraudar as expectativas de ninguém.

CONSIDERA SER ESTE O MOMENTO MAIS ALTO DA SUA CARREIRA?

Receber a notícia da promoção à 1.ª Categoria não deixa de ser o meu melhor momento na arbitragem, depois de atingir o 4.º lugar na 2.ª Divisão B, o que revela que valeu a pena ter feito sacrifícios.

ATINGIDO ESTE PATAMAR QUE OBJECTIVOS SE LHE DEPARAM AGORA?

É preciso dar um passo de cada vez e consolidar o que foi conseguido. Sei que acima de tudo tenho muito trabalho pela frente para não desiludir ninguém, principalmente, os que depositaram confiança em mim para ocupar este lugar onde nem todos os árbitros chegam. Vou tentar dar sempre o meu melhor para que possa servir de exemplo àqueles que se estão a iniciar na arbitragem.

CONCORDA QUE NÃO SE CHEGA A UM LUGAR DESTES SOZINHO?

É óbvio que não. Esta promoção é essencialmente um trabalho de grupo, em que o árbitro principal é que dá a cara assumindo o papel de protagonista. No entanto, sem a qualidade de todos os assistentes que tive o prazer de ter na minha equipa, escolhidos por mim, era quase impossível atingir este patamar. Na verdade também aprendi muito com eles e saliento os dois com os quais trabalhei nas últimas duas épocas, Pedro Costa e José Caldeira, com os quais atingi as duas mais importantes promoções Por outro lado, tenho que agradecer a compreensão da minha família pelas constantes ausências e pelo apoio que me dedicaram, o qual é fundamental para o equilíbrio emocional.

QUAL A IMPORTÂNCIA DO NÚCLEO DE ÁRBITROS DE FUTEBOL DE FAFE EM TUDO ISTO?

O Núcleo foi a casa que me viu nascer e crescer para a arbitragem, revelando-se como a porta de entrada neste mundo que na altura desconhecia e do qual teve o prazer de ser presidente durante quatro anos. Sinto-me duplamente feliz por ascender à primeira categoria no ano em que o NAFF festeja as bodas de prata. Trata-se de uma casa que trabalha com seriedade, sabe cativar a juventude e cultiva os valores da amizade e solidariedade entre árbitros. Esse trabalho tem dado frutos ao longo dos anos. Nesta época há mais dois fafenses a merecem honras de subida. São eles Albano Correia que sobe à 2.ª Divisão B e Júlio Loureiro que sobe como observador à 1.ª Categoria Nacional.
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