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domingo, 12 de abril de 2020

Calçado desportivo Netinho | A fantástica história do empreendedor Francisco Sousa

TEXTO: JOÃO CARLOS LOPES | FOTO: DR

Uma fuga que lhe valeu a alcunha  

As novas gerações de jogadores certamente que desconhecem que há umas décadas atrás existiu uma empresa em Fafe que fabricava chuteiras e bolas para futebol, botas de patinagem e ainda sapatos para bicicletas e que perdurou por muitos anos no concelho equipando milhares de atletas e fornecendo centenas de equipas. Na altura, pouca gente se interrogava de onde vinha o nome e de onde era empresa, muito menos a vida do seu empreendedor e a origem do nome “Netinho”.   

Francisco de Sousa, é natural da freguesia de Cepães, Concelho de Fafe, onde nasceu a 3 de Janeiro de 1926. Descendia de uma família bastante humilde e por isso mesmo e porque era normal naquela altura, começou a trabalhar muito novo para contribuir para o agregado familiar.

Francisco foi criado pela sua avó que o tratava muito bem, utilizando sempre o termo: “o meu Netinho”. Após concluir a 3.ª classe, arranjou um trabalho de ajudante de sapateiro, em Guimarães, para onde se deslocava diariamente a pé até ao dia que juntou dinheiro para comprar uma bicicleta.

Depois de alguns anos de aprendizagem na arte de sapateiro, estabeleceu-se por conta própria, na casa da sua avó, em Cepães, com uma oficina de conserto de sapatos, começando por reparar primeiro o calçado dos seus vizinhos. 

Porque foi sempre uma pessoa dedicada e empreendedora acabou por colocar de lado os consertos para se dedicar ao fabrico de sapatos novos.

Volvidos alguns anos, começou a fabricar sapatos para andar de bicicleta, que a sua grande paixão e cujo gosto pela mesma adquiriu quando tinha de se deslocar de velocípede para Guimarães e que o levou inclusive a participar, em representação do Futebol Clube de Fafe (sediado no Bairro da Granja), em algumas provas de ciclismo que se iam fazendo nas festas populares da época.

Já com alguns filhos a trabalhar consigo, começou a fazer as famosas chuteiras bolas e botas de patinagem com o seu nome de marca “Netinho”, vendendo milhares de chuteiras e bolas de futebol por todo o país e norte de Espanha.

 Na sua microempresa, fabricava cerca de 50 pares de chuteiras e 10 bolas por dia. Com grande esforço e motivação implantou a sua marca no mercado nacional durante 40 anos, abastecendo clubes e lojas de desporto.

Francisco era uma pessoa reservada, de poucas palavras, mas dotado de uma força enorme de vencer e de se superar e sentia um orgulho enorme de ter fundado uma marca que ainda hoje é conhecida. 

Esta equipa da AD Fafe utilizava bolas Netinho
O nome “Netinho” é uma alcunha que nasceu numa noite em que Francisco Sousa e os seus amigos andavam pela aldeia a “bater latas” - uma tradição usada da época que se aplicava às mulheres viúvas. Surpreendidos pela GNR, uns fugiram, outros foram apanhados. O Francisco fugiu para o cemitério e escondeu-se dentro do poço dos ossos, de onde só saiu volvidos três dias para não ser apanhado. A sua avó que estava desesperada com o seu súbito desaparecimento, procurou-o pesarosa por todo o lado soltando a frase: “cadê o meu netinho?”. Assim nasceu a alcunha de “Netinho” que haveria de fazer parte da vida de Francisco Sousa até ao dia da sua morte, ocorrida no dia 22 de abril de 2003, após se debater com uma doença oncológica.

Curiosamente, foi o seu neto André Costa Leite, que nos despertou para a ideia de fazer este artigo e ajudou a contar esta fantástica história de um homem que marcou várias gerações e merece uma justa homenagem não só nossa mas de toda a comunidade desportiva.  

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