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sexta-feira, 7 de junho de 2013

Colóquio do OFC Antime mostrou mesmo o outro lado do desporto

Texto e fotos: João Carlos Lopes 

“O desporto é uma escola de valores”
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- Um evento que deixou satisfeita a plateia e os oradores

Foi um retumbante sucesso o colóquio que o OFC Antime resolveu, em boa hora, levar a efeito nas magníficas instalações do auditório da junta de freguesia que dá o mesmo nome ao clube, onde uma dezena de oradores manteve atenta por cerca de três horas mais de cem almas que absorveram atentamente a visão desportiva de quem vive o desporto por dentro e por fora naquela que foi uma verdadeira incursão no “outro lado do desporto”. A moderação esteve a cargo do jornalista fafense da Antena 1, Carlos Rui Abreu. A grande conclusão deste colóquio vai no sentido de que, o desporto deve mover-se por valores, verdade, imparcialidade, cooperação, tolerância, ajuda, determinação, respeito, coragem, justiça e honestidade.

O presidente da colectividade, Jorge Ribeiro, deu as boas vindas aos presentes mas teve uma atenção especial para com o futebolista Sandro que é um homem de Antime e esteve sempre ligado ao Clube, onde deu os primeiros passos para o futebol.

O primeiro orador da noite foi o psicólogo Belarmino Dias que dissertou sobre “o outro lado do desporto: da vida para o desporto e do desporto para a vida”. Deixou no ar a pergunta: “Quantos lados tem o desporto?” e a partir daí partiu para várias explicações e entre elas disse que os intervenientes nos jogos são pessoas e como tal, são influenciadas por múltiplos factores ambientais, sociais, físicos e psicológicos. Terminou a sua apresentação com um vídeo em que mostrava que o comportamento das crianças é um reflexo do dos adultos, isto para reforçar a ideia de que é necessário dar bons exemplos.

O árbitro fafense de 1.ª categoria, Jorge Ferreira, subdividiu a sua apresentação em dois temas: no primeiro elucidou os presentes sobre a vida de um árbitro no dia-a-dia e, no segundo, sobre como prepara os jogos. Para tal apresentou um vídeo sobre um dia na vida de um árbitro, em que mostrou que a sua preparação com um treinador pessoal antes de ir para o emprego e os depois deste, os seus afazeres familiares. Na revelação que fez sob a preparação dos jogos deixou entender que nada é deixado ao acaso, desde a preparação física e psicológica até ao estudo das equipas que intervenientes nos jogos que vai apitar, incluindo as reuniões que tem com a sua equipa antes dos mesmos.

Paulo Alves, ex-treinador do Gil Vicente, considerou que o trabalho por vezes afecta a família e que em Portugal a vitória é o céu e a derrota o inferno. Disse ainda que o treinador português tem um reconhecimento e aceitação grande porque são muito competitivos e apaixonados naquilo que fazem e no seu caso pessoal diz que ver o jogo na televisão não é a mesma coisa que estar a vê-lo ao vivo e que por via disso já teve que se deslocar aos mais diversos pontos do país onde encontra outros colegas de profissão a fazer o mesmo porque são todos muito meticulosos. Relativamente à sua profissão diz que o treinador tem que passar uma mensagem vencedora, com alegria e motivação, estando sempre à procura de mais e melhor para poder vencer os jogos, passando muitas noites em branco a pensar naquilo que poderá melhorar e que a preparação do jogo seguinte começa logo a seguir ao que termina.

Sandro, futebolista do Gil Vicente, e antigo futebolista da AD Fafe, começou por dizer que se é jogador de futebol e chegou onde chegou deve muito ao OFC Antime. Passou depois a dissertar sobre o que é o jogo, considerando-o como um teste em que os jogadores são postos à prova o que acarreta muitas emoções. Disse depois que em qualquer profissão não é fácil estar sempre a “aturar” alguém o que nos leva, em determinadas situações, a perder a cabeça. Sobre a repercussão dos resultados confessou que quando se perde não há dúvida que a derrota mexe com o meio familiar e que dificilmente consegue dormir pois dá consigo a rever o “filme” em busca da explicação para aquilo que correu mal.

Alex, jogador do Vitória de Guimarães, que também já passou pela ADF, disse inclusive que a cidade lhe é muito querida, onde passou três anos acabou por explicar o que se sente num dia de final da Taça e toda a preparação para o jogo e comunga das ideias do Sandro e Paulo Alves quando dizem que a vida profissional influencia a vida familiar. Disse depois que há coisas que não aparecem nas estatísticas do futebol e são muito importantes como o facto da equipa ser humilde e solidária, o que, de resto, aconteceu com o Vitória na pretérita época.

Flávio Meireles, actual director desportivo do Vitória de Guimarães e também antigo atleta da AD Fafe, falou da sua experiência em como de um momento para o outro saiu do campo e passou a ocupar um gabinete, situação que não foi fácil de gerir mas. Falou ainda na sua experiência no actual contexto do Vitória Sport Clube, o que o obrigou a tomar consciência da realidade de uma forma rápida, deparando-se com vários problemas mas considera que é um trabalho motivador. Falou ainda da sua responsabilidade ao ser director desportivo de duas equipas profissionais e ainda como o seu cargo o obriga a lidar com todos os agentes desportivos. Terminou a referir que o futebol é um negócio e que de uma maneira ou de outra é necessário valorizar os activos.

O professor Inácio Anjos, falou em nome do Instituto Português do Desporto e Juventude tecendo elogios à respeitável idade que o OFC Antime atingiu e passou a referir que o deporto é executado por prazer e por gosto centrando depois a sua prelecção na ética e na falta dela. A determinada altura falou dos dirigentes e animadores e nos comportamentos destes. Começando pelos reprováveis, tais como não serem responsáveis nem profissionais, insultar ou protestar, contestar as decisões do árbitro, não respeitar as fases de crescimento dos atletas e estar sempre a criticar o desempenho dos mesmos. Em sentido contrário considerou que devem: apoiar e valorizar, ser competentes e profissionais, devem acompanhar, mostrar interesse e amizade. Devem ainda, não protestar, respeitar as decisões e respeitar a equipa adversária pois sem ela não há competição uma vez que ninguém joga sozinho. Em suma os dirigentes e animadores desportivos devem reger-se por um código de boa conduta porque o desporto deve ser uma escola de valores.

Antes do vereador do Desporto da Câmara Municipal de Fafe, Pompeu Martins, fechar o protocolo houve um período de perguntas relacionadas com lesões e psicologia desportiva e actividade profissional quer de técnicos quer de árbitros. Alex e Sandro falaram das lesões e daquilo quês sente um jogador quando não é convocado. Jorge Ferreira referiu que quando os árbitros têm a noção que erram ninguém fica mais chateado que eles e Paulo Alves disse que não é fácil para um técnico fazer opções, admitindo por vezes ser injusto e confessando tê-lo sido algumas com Sandro, que se encontrava mesmo ao seu lado na mesa. Sobre a psicologia no desporto, nomeadamente nas crianças que choram nos jogos e de treinadores que se vingam no treino seguinte às derrotas, falou Belarmino Dias, dizendo que as crianças não deviam chorar e só o fazem por estão mal orientadas nesse sentido e ainda que os treinadores que se dão a chamada “coça” nos jogadores não beneficiam nada com isso, bem pelo contrário.

A terminar, Pompeu Martins referiu que do outro lado do desporto há razões e estratégias que passam para lá da especificidade que é a actualidade desportiva. Disse depois que o OFC Antime é uma escola de valores e cidadãos”. Relembrou depois que a edilidade fomenta a ética desportiva e o “fair-play” e que é importante que todos consigam entender o papel que cabe ao desporto.

No final houve um pequeno beberete com pão-de-ló e doces regionais que serviu também para que o público estivesse mais perto dos oradores e até trocasse algumas palavras menos informais com os mesmos. Porém, um pouco antes, Flávio Meireles surpreendeu o presidente Jorge Ribeiro ao entregar-lhe uma salva de prata com o emblema do Vitória de Guimarães e um galhardete grande o clube vitoriano. Um gesto que caiu bem aos antimenses e mereceu o aplauso de toda a plateia, como de resto já tinha merecido todos os oradores pelas suas brilhantes interlocuções. 

Uma palavra de apreço para o OFC Antime que arriscou fazer este colóquio a uma 5.ª feira, na sua própria freguesia, mas com o brilho, a qualidade e o substrato como se tivesse sido feito em qualquer grande cidade do país. Parabéns!   
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