Texto e fotos: João Carlos Lopes
“O desporto é uma escola de
valores”
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- Um evento que deixou satisfeita a plateia e os oradores
Foi um retumbante sucesso o
colóquio que o OFC Antime resolveu, em boa hora, levar a efeito nas magníficas
instalações do auditório da junta de freguesia que dá o mesmo nome ao clube, onde
uma dezena de oradores manteve atenta por cerca de três horas mais de cem almas
que absorveram atentamente a visão desportiva de quem vive o desporto por
dentro e por fora naquela que foi uma verdadeira incursão no “outro lado do
desporto”. A moderação esteve a cargo do jornalista fafense da Antena 1, Carlos
Rui Abreu. A grande conclusão deste colóquio vai no sentido de que, o desporto
deve mover-se por valores, verdade, imparcialidade, cooperação, tolerância,
ajuda, determinação, respeito, coragem, justiça e honestidade.
O presidente da colectividade,
Jorge Ribeiro, deu as boas vindas aos presentes mas teve uma atenção especial
para com o futebolista Sandro que é um homem de Antime e esteve sempre ligado
ao Clube, onde deu os primeiros passos para o futebol.
O primeiro orador da noite foi o
psicólogo Belarmino Dias que dissertou sobre “o outro lado do desporto: da vida
para o desporto e do desporto para a vida”. Deixou no ar a pergunta: “Quantos
lados tem o desporto?” e a partir daí partiu para várias explicações e entre
elas disse que os intervenientes nos jogos são pessoas e como tal, são
influenciadas por múltiplos factores ambientais, sociais, físicos e
psicológicos. Terminou a sua apresentação com um vídeo em que mostrava que o
comportamento das crianças é um reflexo do dos adultos, isto para reforçar a
ideia de que é necessário dar bons exemplos.
O árbitro fafense de 1.ª
categoria, Jorge Ferreira, subdividiu a sua apresentação em dois temas: no
primeiro elucidou os presentes sobre a vida de um árbitro no dia-a-dia e, no
segundo, sobre como prepara os jogos. Para tal apresentou um vídeo sobre um dia
na vida de um árbitro, em que mostrou que a sua preparação com um treinador
pessoal antes de ir para o emprego e os depois deste, os seus afazeres familiares.
Na revelação que fez sob a preparação dos jogos deixou entender que nada é
deixado ao acaso, desde a preparação física e psicológica até ao estudo das
equipas que intervenientes nos jogos que vai apitar, incluindo as reuniões que
tem com a sua equipa antes dos mesmos.
Paulo Alves, ex-treinador do Gil
Vicente, considerou que o trabalho por vezes afecta a família e que em Portugal
a vitória é o céu e a derrota o inferno. Disse ainda que o treinador português
tem um reconhecimento e aceitação grande porque são muito competitivos e
apaixonados naquilo que fazem e no seu caso pessoal diz que ver o jogo na
televisão não é a mesma coisa que estar a vê-lo ao vivo e que por via disso já
teve que se deslocar aos mais diversos pontos do país onde encontra outros
colegas de profissão a fazer o mesmo porque são todos muito meticulosos.
Relativamente à sua profissão diz que o treinador tem que passar uma mensagem
vencedora, com alegria e motivação, estando sempre à procura de mais e melhor
para poder vencer os jogos, passando muitas noites em branco a pensar naquilo
que poderá melhorar e que a preparação do jogo seguinte começa logo a seguir ao
que termina.
Sandro, futebolista do Gil
Vicente, e antigo futebolista da AD Fafe, começou por dizer que se é jogador de
futebol e chegou onde chegou deve muito ao OFC Antime. Passou depois a
dissertar sobre o que é o jogo, considerando-o como um teste em que os
jogadores são postos à prova o que acarreta muitas emoções. Disse depois que em
qualquer profissão não é fácil estar sempre a “aturar” alguém o que nos leva,
em determinadas situações, a perder a cabeça. Sobre a repercussão dos
resultados confessou que quando se perde não há dúvida que a derrota mexe com o
meio familiar e que dificilmente consegue dormir pois dá consigo a rever o
“filme” em busca da explicação para aquilo que correu mal.
Alex, jogador do Vitória de
Guimarães, que também já passou pela ADF, disse inclusive que a cidade lhe é
muito querida, onde passou três anos acabou por explicar o que se sente num dia
de final da Taça e toda a preparação para o jogo e comunga das ideias do Sandro
e Paulo Alves quando dizem que a vida profissional influencia a vida familiar.
Disse depois que há coisas que não aparecem nas estatísticas do futebol e são
muito importantes como o facto da equipa ser humilde e solidária, o que, de
resto, aconteceu com o Vitória na pretérita época.
Flávio Meireles, actual director
desportivo do Vitória de Guimarães e também antigo atleta da AD Fafe, falou da
sua experiência em como de um momento para o outro saiu do campo e passou a
ocupar um gabinete, situação que não foi fácil de gerir mas. Falou ainda na sua
experiência no actual contexto do Vitória Sport Clube, o que o obrigou a tomar
consciência da realidade de uma forma rápida, deparando-se com vários problemas
mas considera que é um trabalho motivador. Falou ainda da sua responsabilidade
ao ser director desportivo de duas equipas profissionais e ainda como o seu
cargo o obriga a lidar com todos os agentes desportivos. Terminou a referir que
o futebol é um negócio e que de uma maneira ou de outra é necessário valorizar
os activos.
O professor Inácio Anjos, falou
em nome do Instituto Português do Desporto e Juventude tecendo elogios à
respeitável idade que o OFC Antime atingiu e passou a referir que o deporto é executado
por prazer e por gosto centrando depois a sua prelecção na ética e na falta
dela. A determinada altura falou dos dirigentes e animadores e nos
comportamentos destes. Começando pelos reprováveis, tais como não serem responsáveis
nem profissionais, insultar ou protestar, contestar as decisões do árbitro, não
respeitar as fases de crescimento dos atletas e estar sempre a criticar o
desempenho dos mesmos. Em sentido contrário considerou que devem: apoiar e
valorizar, ser competentes e profissionais, devem acompanhar, mostrar interesse
e amizade. Devem ainda, não protestar, respeitar as decisões e respeitar a
equipa adversária pois sem ela não há competição uma vez que ninguém joga
sozinho. Em suma os dirigentes e animadores desportivos devem reger-se por um
código de boa conduta porque o desporto deve ser uma escola de valores.
Antes do vereador do Desporto da
Câmara Municipal de Fafe, Pompeu Martins, fechar o protocolo houve um período
de perguntas relacionadas com lesões e psicologia desportiva e actividade
profissional quer de técnicos quer de árbitros. Alex e Sandro falaram das
lesões e daquilo quês sente um jogador quando não é convocado. Jorge Ferreira
referiu que quando os árbitros têm a noção que erram ninguém fica mais chateado
que eles e Paulo Alves disse que não é fácil para um técnico fazer opções,
admitindo por vezes ser injusto e confessando tê-lo sido algumas com Sandro,
que se encontrava mesmo ao seu lado na mesa. Sobre a psicologia no desporto,
nomeadamente nas crianças que choram nos jogos e de treinadores que se vingam
no treino seguinte às derrotas, falou Belarmino Dias, dizendo que as crianças
não deviam chorar e só o fazem por estão mal orientadas nesse sentido e ainda
que os treinadores que se dão a chamada “coça” nos jogadores não beneficiam
nada com isso, bem pelo contrário.
A terminar, Pompeu Martins
referiu que do outro lado do desporto há razões e estratégias que passam para
lá da especificidade que é a actualidade desportiva. Disse depois que o OFC
Antime é uma escola de valores e cidadãos”. Relembrou depois que a edilidade
fomenta a ética desportiva e o “fair-play” e que é importante que todos
consigam entender o papel que cabe ao desporto.
No final houve um pequeno
beberete com pão-de-ló e doces regionais que serviu também para que o público
estivesse mais perto dos oradores e até trocasse algumas palavras menos
informais com os mesmos. Porém, um pouco antes, Flávio Meireles surpreendeu o
presidente Jorge Ribeiro ao entregar-lhe uma salva de prata com o emblema do
Vitória de Guimarães e um galhardete grande o clube vitoriano. Um gesto que
caiu bem aos antimenses e mereceu o aplauso de toda a plateia, como de resto já
tinha merecido todos os oradores pelas suas brilhantes interlocuções.
Uma palavra de apreço para o OFC Antime que arriscou fazer este colóquio a uma 5.ª feira, na sua própria freguesia, mas com o brilho, a qualidade e o substrato como se tivesse sido feito em qualquer grande cidade do país. Parabéns!
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