Entrevista | Nuno Fernandes (CA Fafe) um atleta de grandes superações

ENTREVISTA POR: JOÃO CARLOS LOPES

"Em Fafe ainda não há cultura desportiva para além do futebol"

Nome: Nuno Fernandes  

Idade: 39 anos 

Profissão: Estampador Têxtil 

Clubes que representou no atletismo: SR Cepanense e Clube de Atletismo de Fafe. 

Nuno Fernandes é nesta altura o desportista da modalidade de atletismo mais consagrado de Fafe onde se tem destacado principalmente nas provas de Trail, vencendo alguns dos eventos míticos a nível nacional, como o Trans Peneda Gerês entre outros. É um caso raro de entrega e superação à modalidade a qual pratica como amador, mas que já o levou a fazer distâncias que vão dos 10 aos 170 km, isto tudo mantendo diariamente o seu posto de trabalho como estampador têxtil. Um atleta com uma dedicação rara à modalidade que não abdica das sua raízes e que, apesar de vários convites, se mantém fiel à sua equipa, o Clube Atletismo de Fafe, do qual é cofundador. Uma pessoa humilde que não sonha com grandes conquistas mas sim em poder continuar a correr muitos anos e desfrutar da sensação que o atletismo, nas suas várias vertentes, lhe proporciona.        

Que desportos já praticou e em que Clubes?

Joguei futebol no GD Fornelos, SR Cepanense e GD Paços e futsal nos Associação dos Dadores de Sangue de Fafe , Desportivo Ases de São Jorge, GD Fornelos e GD Ardegão. Pratiquei atletismo na SR Cepanense e Clube de Atletismo de Fafe, o qual ainda represento.    

Como surge o atletismo na sua vida? 

Fazia ginásio e este organizou uma ida à corrida Dia do Pai, no Porto, a qual fui e adorei, desde aí a corrida entrou definitivamente na minha vida. 

Prefere provas de estrada ou de Trail?

Gosto de provas de estrada pois é uma boa base para todo o tipo de corrida, mas o trail é mais interessante pois passa-se em locais lindíssimos da natureza e é necessário mais estratégia de corrida para conseguir o melhor resultado possível, pois nem sempre quem está em melhor forma vence,  uma vez que se pode cometer vários erros que na estrada são difíceis de acontecer.

Como organiza os seus treinos? 

Os meus treinos são muito parecidos todo o ano. Passam por rolar com desnível, ou não, na terça, quinta e sexta. Faço treinos específicos à quarta e sábado e aos domingos faço um treino mais longo. 

Tem algum treinador a orientá-lo ou é autodidata?

Sou um pouco autodidata. Em cinco treinos, por semana vou treinando sozinho e à minha maneira. Se tiver que treinar trail vou mais vezes ao parque do Porto Seguro e no Verão para as nossas belas Serras. Caso tenha que treinar para estrada, já treino mais na pista de cicloturismo e parque da cidade. Para os treinos de quarta e sábado, que são os mais importantes tenho uma pessoa que me vai ajudando por carolice mas com grande gosto,à qual desde já agradeço.

Qual a prova que mais prazer lhe deu disputar?

A prova que mais prazer deu por todo o ambiente e pelo desafio e caminho para chegar lá foi o UTMB (Ultra Trail Mont Blanc) sem qualquer dúvida. Não sei se conseguirei fazer algo parecido no futuro.

Como se prepara uma prova de 170 km como o UTMB ?

A preparação para essa prova foi muito à toa, sem a mínima noção da melhor preparação a fazer. Podia correr melhor, mas tinha que deixar de fazer o que gosto, preparando a fundo essa prova, obrigando a maiores custos em toda a preparação, mas como não vivo disto tentei preparar-me o melhor possível sem mudar muito a minha rotina diária.

Que tipo de provas costuma fazer a nível nacional? 

A nível nacional gosto de fazer o Nacional de Trail e a final da Taça. Depois faço o circuito do Carlos Sá, que é magnífico, pois todas as provas são em locais lindíssimos. 

Em que distâncias se sente mais confortável?

Já fiz 170/100/80/50/42/21/10 kms em prova. Neste momento se conseguir recuperar do problema que tenho no pé acho que a melhor distância para mim é entre 42-50 kms, que acho que é a distância em que tenho melhores características. 

O que sente quando está a correr?

Quando corro nem sempre as sensações são as melhores, pois a maior parte dos treinos custam bastante, mesmo sendo tranquilos, mas pior que isso é não treinar, porque me deixa mais stressado e triste.

Considera que Fafe devia ter uma prova anual que definisse os campeões concelhios de atletismo?

Acho que Fafe merecia ter uma prova de estrada que faz falta, agora essa prova definir campeões concelhios é uma ideia que pode ser avaliada.

Representa uma equipa de atletismo de Fafe, já recebeu convites de outras equipas?

Sim tive alguns convites das melhores equipas nacionais de trail. 

Porque não aceitou esses convites?

Não aceitei pois como fundador do Clube Atletismo de Fafe e pela prova que organizamos achei melhor ficar por cá. Além disso não sei se estou preparado para fazer tudo o que esses clubes queriam que fizesse. Cá tenho a vantagem de definir o meu calendário anual 

O que já lhe deu o atletismo?

O atletismo deu-me muitas amizades muitas, superações pessoais que nunca pensei ser capaz e além disso dá-me saúde e bem-estar. 

O que pensa ainda conquistar?

Gostava de fazer menos de 2h30m na maratona e ganhar uma prova internacional de trail. 

Qual o seu sonho como atleta?

O meu sonho como atleta é continuar a correr durante muitos anos 

Quem são as suas principais referências no atletismo/Trail? 

A minha referência é o Carlos Sá, por todo o seu currículo e por tudo o que tem feito pelo trail nacional.

No atletismo também há lesões já teve alguma que fosse arreliadora?

Já tive algumas lesões chatas e ando com uma desde maio. Em princípio terei de ser operado e se for para resolver de vez que seja o quanto antes.

Alguns anos depois de começar a obter grandes resultados no atletismo sente-se reconhecido?

Sinto algum reconhecimento que agradeço mas podia haver mais apoio aos atletas. Em Fafe ainda não há cultura desportiva para além do futebol.

O que poderia a autarquia fazer pelos atletas de Fafe, sabendo que ainda há bastantes? 

A autarquia podia aproveitar a ciclovia e na berma desta fazer um caminho de meio metro para as pessoas que correm/caminham e que o fizessem em terra batida, em vez de andar naquele alcatrão duríssimo que destrói as articulações da população: Ficava barato e seria um grande serviço público pois a ciclovia é espetacular.