Texto e fotos: João Carlos Lopes / Tiago João Lopes
Uma dedicação ímpar de
duas décadas consecutivas
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- Carlos Cunha ex-hoquista: "O Sr. Osório foi: treinador, director, motorista, massagista, mecânico, pai, encarregado de educação e até mãe de alguns jogadores"
Um
grupo de antigos jogadores de Hóquei em Patins do Grupo Nun’Álvares, entendeu
que devia homenagear Sampaio Osório, o homem que aguentou a modalidade durante
duas décadas seguidas, com verdadeiro empenho, e dedicação, fazendo-o por
ocasião da comemoração dos 80 anos da colectividade, numa partida de Hóquei
entre atletas de várias gerações. Um jogo que os azuis, venceram por 5-4 mas
que já estava ganho por todos, os que se juntaram, desde o início, nesta
homenagem e no minuto de silêncio a um companheiro de treinos falecido no ano
passado naquele mesmo recinto em plena actividade física. Nem todos puderam
jogar, por falta de material, mas marcaram presença para homenagear aquele que
foi um símbolo e uma referência de altruísmo durante muitos anos.
Sampaio
Osório ficou visivelmente emocionado com esta homenagem da qual disse “sensibilizou-me
bastante e tocou-me muito fundo, o que os antigos atletas fizeram. Não tenho
dúvida de que é o reconhecimento do tempo em que me dediquei a eles e cuja
missão era olhar por eles e ensiná-los da melhor maneira para o desporto e para
a vida. Fiquei emocionado com a lembrança e a camisola que me entregaram. Valeu
a pena estar estes 22 anos com o Hóquei Patins quanto mais não seja por ter o
reconhecimento dos atletas. Este jogo entre os antigos atletas e mais alguns
amigos de Vizela que costumam treinar Hóquei no Pavilhão do Grupo deu para
matar saudades e, juntamente com o Cortez que também me acompanhou durante
muitos anos senti-me na obrigação de orientar uma equipa e ele outra,
recordando outros saudosos tempos”.
O
eterno estandarte do Hóquei em Patins no Grupo Nun’Álvares começou a viver a
modalidade ainda nos anos de 1977 e 1978, “ foi com o falecido Manuel Ribeiro
“34” a seccionista, sendo o senhor Ramos o primeiro treinador. Contudo houve, depois,
um interregno porque a modalidade se iniciou com juniores e quando eles
passaram a seniores não continuaram e como não havia camadas jovens tivemos que
desistir”, referiu.
Depois
o Hóquei ressurgiu em 1985 e durou 20 anos seguidos, até 2005, sempre com
Sampaio Osório á frente, tendo terminado na altura em que começaram a aparecer
as escolinhas de futebol as quais aliciaram os atletas que aqui tínhamos.
Na
hora de puxar o filme atrás o agora homenageado confessa “guardo boas
recordações deste tempo todo. Aliás até estamos a pensar juntarmo-nos um dia,
não a jogar Hóquei, mas numa mesa para recordar essas duas décadas seguidas da
existência da modalidade pois há peripécias engraçadas o mesmo sucedendo nos
outros dois anos iniciais”.
Sobre
a modalidade em si, salienta que “não era fácil gerir uma modalidade cujo
equipamento individual naquele tempo ficava já por cem contos (quinhentos euros
actuais), sendo verdade que os dos guarda-redes ficavam mais caros. Contudo,
contamos sempre com a colaboração dos pais dos atletas que iam comprando algum
material necessário. Inicialmente foi o Grupo que colocou os patins e as
canelarias à disposição dos atletas e estes, por altura do Natal pediam ao “Pai
Natal” presentes relacionados com a modalidade que mais gostavam e isso foi
ajudando”.
“Foi
uma pena o Hóquei ter acabado mas, quando terminamos aqui com as camadas
jovens, tive a curiosidade de seguir a evolução dos outros clubes e verifiquei
que também tiveram alguma dificuldade. Contudo essa dificuldade era acrescida
para nós pois apareceram muitas modalidades que foram cativando os miúdos, como
a natação, o karaté, o futebol e o andebol. O Hóquei estava em desvantagem com
estas modalidades todas pois tem uma fase de aprendizagem não para jogar mas para
aprender a andar de patins que normalmente pode ir até do ano e meio aos dois
anos e só depois passavam à competição. No entanto, fazíamos pequenos milagres
e colocávamos os miúdos a jogar apenas com sete ou oito meses de patinagem. É
claro que os miúdos praticavam uma patinagem a que chamávamos o “tem-te e não
caias”, referiu com um sorriso.
Das
memórias que guarda principalmente dessas duas década afirma, “para mim o
relacionamento com os atletas esteve sempre á frente de tudo. Por vezes fui um
pouco mais duro com eles mas foi sempre para bem deles, tendo os mesmos acabado
por reconhecer isso mesmo. Uma satisfação enorme que tenho é que muitos dos
atletas conseguiram tirar cursos superiores e na generalidade estão bem na vida”.
Dentro
da modalidade em si “orgulho-me do Grupo ter organizado o torneio inter-regiões
e da “final-four” da Taça de Portugal. Além disso organizamos um jogo de
demonstração da modalidade, que se revelou como o primeiro jogo sénior no
Pavilhão do Grupo, entre o FC Porto e o Liceo da Corunha. Estivemos também,
comigo como técnico, por duas ocasiões, distintas, no campeonato nacional e
posso dizer que nunca ficamos em último lugar”, salientou.
Sampaio
Osório teve de tirar o curso de treinador mas houve mais quatro pessoas em Fafe
que tiraram curso de treinador de Hóquei. Foram eles o Tozé Teixeira Bastos, o
Vasco Fly, o Carlitos Cunha e o Hernâni. “Inicialmente não tinha curso e depois
acabei por o tirar porque a Federação ia obrigar a que os treinadores da
formação o tivessem nas épocas seguintes. Devo referir ainda que o Tozé me
ajudou muito e me acompanhou durante muitos anos nesta modalidade”, disse ainda.
Sampaio
Osório afirma também que “nesta conjectura económica era quase impossível
ressurgir o Hóquei em Patins em Fafe, dados os elevados custos que acarreta.
Depois do Hóquei começamos a pensar na Secção de Patinagem artística e
felizmente que a mesma está bem entregue a quem percebe da modalidade e bem
lançada, com muitos atletas e muitos êxitos conquistados a nível nacional e
internacional e que muito têm dignificado a colectividade”, rematou.
"O
Senhor Osório é o homem do Hóquei em Fafe"
Carlos
Cunha foi um antigo praticante da modalidade, tendo tirado o curso de treinador
e ainda é, actualmente, dos fafenses aquele que mais vive a modalidade,
deslocando-se para ver e apreciar jogos. Foi também um dos principais mentores
da homenagem a Sampaio Osório, que “considera ser, sem qualquer tipo de dúvida,
o homem do Hóquei em Patins em Fafe. Se não fosse ele ser treinador, director,
massagista, mecânico, pai, encarregado de educação e até mãe de alguns jogadores
o Hóquei em Fafe não tinha durado os anos que durou”, começou por dizer.
“Além
disso era motorista e só não jogava porque já não tinha idade, não fazendo mais
porque não podia. Para isso abdicou do convívio familiar por nossa causa. Este
reconhecimento peca por tardio, pois já devia ter sido feito há mais tempo”,
complementou.
“Aproveitamos
esta oportunidade da instituição fazer a bonita idade de 80 anos para juntar o
útil ao agradável e homenagear este homem que tanto nos deu, o que nos deixa
muito orgulhosos, apesar de ser uma coisa simbólica que partiu de um grupo de
ex-atletas que reconhecem que o senhor Osório nos influenciou positivamente
para a vida, tendo inclusive gasto dinheiro do seu bolso para que não nos
faltasse nada. Por outro lado esforçou-se por integrar sempre os mais
desfavorecidos e até chegamos a ter ciganos a jogar nas nossas equipas pois ele
conseguiu que houvesse integração dos mesmos num ambiente saudável. Passou por
aqui muita gente de forma passageira mas o Senhor Osório permaneceu firme até
ao final, aguentando tudo até não poder mais. De resto já tinha sido
homenageado pela Associação de Patinagem do Minho, como reconhecimento dos
serviços prestados à modalidade”, frisou.
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