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quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Entrevista ao ciclista profissional Rui Rodrigues

Texto e fotos: João Carlos Lopes

“Participar na Volta a Portugal foi um sonho realizado”

O jovem ciclista fafense Rui Rodrigues trocou o futebol pelas bicicletas e ao longo dos anos tem traçado um percurso bonito no ciclismo que já o levou ao pódio numa volta a Portugal de Juniores, a ser vice-campeão nacional de Pista e campeão nacional de perseguição por equipas também em Pista. Em 2015 cumpriu o sonho de participar e terminar a Volta a Portugal em bicicleta já como profissional em representação da equipa do Louletano Ray Just Energy, por quem acaba de renovar por mais uma temporada. Rui sente que ainda tem muito que aprender mas é pragmático e não esconde a ambição de um dia chegar a líder de uma equipa. Já representou a seleção nacional de Juniores e não esconde o desejo de voltar a vestir essa camisola que muito orgulho lhe deu.


Que balanço faz da sua primeira participação na Volta a Portugal?

Desde o início que foi uma surpresa porque inicialmente não estava para participar, apesar de saber que podia avançar se acontecesse algo, infelizmente faleceu o pai de um colega de equipa e eu acabei por ser chamado. Foi uma experiência que nunca mais vou esquecer porque era um desejo que tinha e correu da melhor maneira e com o meu primeiro objectivo cumprido que era terminar. 

Ser ciclista foi sempre a sua ambição ou começou por outros desportos? 

Comecei por praticar futebol na formação dos Ases de S. Jorge e passei também pela AD Fafe, o que fiz até aos 16 anos jogando como médio. A partir dessa idade fui convidado para andar de bicicleta pelo senhor Benigno Marques dos Amigos da Roda de Quinchães e em pouco tempo tomei-lhe o gosto e optei pelas bicicletas em detrimento do futebol, estando há sete anos nesta modalidade. 

A que se deve o seu ingresso numa das melhores equipas do pelotão nacional?

Inicialmente pratiquei apenas cicloturismo. No ano seguinte, através de um colega, ingressei na equipa de Juniores no ASC Vila do Conde, onde fiz verdadeiramente a minha formação no ciclismo. Por esta equipa corri a minha primeira volta a Portugal de Juniores, tendo conquistado um lugar no pódio, o terceiro. Face aos bons resultados obtidos no ano de estreia a nível competitivo fui chamado à Seleção Nacional de Juniores, para correr num Prémio internacional de quatro dias. Ainda nesse escalão representei Portugal na Taça das Nações. Seguiram-se dois anos na Maia como Sub 23, que foi o meu primeiro contacto nas corridas a nível de profissionais, uma vez que corríamos todos juntos. Depois passei pela equipa José Maria Nicolau/Cartaxo e terminei o último de quatro anos nesta categoria na Anicolor/Mortágua, onde fiz uma boa época que me permitiu dar nas vistas o que veio a dar frutos pois acabei por ser convidado pelo Louletano Ray Just Energy, equipa pela qual acabo de renovar por mais uma temporada. 

Considera o Ciclismo uma modalidade como outra qualquer? 

Eu que já pratiquei futebol e conheço minimamente as outras modalidades, posso dizer, com conhecimento de causa, que o ciclismo de competição é mesmo muito exigente, levando-nos a fazer sacrifícios físicos e psicológicos muito para além de qualquer outra modalidade. Para se estar em forma é preciso treinar muito, não cometer abusos que possam comprometer o rendimento, evitar muitas vezes comer e beber aquilo que se gosta e nos dá prazer e passar muitas horas em cima da bicicleta, faça sol ou faça chuva. Tudo isto de forma regrada e coordenada para que esses sacrifícios possam minimamente valer a pena e consigamos atingir as metas a que nos propomos. 

Sendo a sua equipa do Sul do país e vivendo no Norte, como se processa o contacto?

Na fase de preparação fazemos alguns estágios que servem para fortalecer o espírito de grupo e dar a conhecer os objectivos da equipa. Em termos individuais estou continuamente em contacto com um treinador da equipa que me transmite o plano de treinos. As regras de alimentação são comuns a todos e dependem da vontade de cada um. Quando começa a temporada, praticamente que temos provas todas as semanas e há um contacto mais directo quer com companheiros ou o com restante staff da equipa. 

Porque acha que em Fafe existe uma cultura voltada para o ciclismo nas suas várias vertentes?

RR - O Concelho de Fafe foi acolhendo a Volta a Portugal desde tempos longínquos e isso e também o facto de irem aparecendo alguns bons ciclistas da terra nessa mesma prova, contribuíram para o gosto que se foi granjeando pela modalidade. Outra das coisas que tem contribuído é o facto de agora haver mais possibilidade de adquirir uma bicicleta e deve ser rara a família que não tenha uma ou duas bicicletas em casa. Outra situação é a própria localização do Concelho que permite aos ciclistas de estrada optar aqui perto por percursos de todos os tipos de dificuldades. Relativamente ao BTT a morfologia da zona montanhosa e as próprias paisagens não só cativam as gentes de Fafe como de todos os concelhos envolventes. 

Quais foram para já as fases da sua carreira que mais o marcaram?

Foi um orgulho enorme e uma alegria indiscritível ter envergado a camisola da Seleção Nacional de Juniores o que nunca me tinha passado pela cabeça e me vai marcar para toda a vida. Participar na Volta a Portugal foi um sonho realizado, pois foi a primeira vez e terminei a prova rainha do ciclismo nacional. O que me tem marcado também pela positiva é a participação em provas internacionais com equipas Pro-Tour, o que me permite ganhar experiência e contactar de perto com os meus ídolos do ciclismo e outros ciclistas consagrados. 

Para além do Ciclismo de estrada praticou outra vertente?

Participei em provas de pista, nas categorias de Juniores e Sub 23, onde fui vice-campeão Nacional por duas vezes pelo ASC Vila do Conde e campeão Nacional de perseguição por equipas. 

O que sentiu quando chegou a Fafe numa etapa da volta?

Por acaso até nem foi uma etapa fácil pois nas duas primeiras horas de corrida o pelotão esticou demais e provocou um desgaste enorme, numa tirada que já por era complicada e onde mais uma vez trabalhei em prol dos interesses da equipa. Por isso, quando passei em Fafe já vinha em fase de descompressão porque já tinha feito o trabalho que me tinha sido pedido e nessa fase o mais importante era terminar a etapa a recuperar já para a seguinte. Contudo, agradeço todo o apoio e carinho que me foi dispensado o qual senti e até me arrepiei de ouvir as pessoas a chamar pelo meu nome. São estes momentos do ciclismo que um dia vamos recordar com mais carinho. 

Em que terreno se sente melhor?

Tenho uma boa ponta final com um sprint forte. Porém, quase todas as corridas têm percursos com grandes declives, os quais ultrapasso mas ainda com algumas dificuldades mas, estou a trabalhar para que no futuro consiga ter melhores desempenhos nesses percursos. No fundo sinto-me um corredor combativo, que gosta de entrar nas fugas e de trabalhar em prol da equipa, estando sempre disponível para os planos táticos do treinador. No entanto vejo tudo isso, como o trajecto necessário para um dia chegar a líder. 

Qual a importância de ter dois conterrâneos a trabalhar na equipa?

O Lizuarte que é mecânico e o Gilberto que é enfermeiro massagista, além de serem fafenses têm em comum o facto de já terem sido ciclistas e de terem corrido na mesma equipa que me encontro agora. Porque sabem o sacrifício que é ser ciclista compreendem-me e ajudam-me na minha evolução e formação não só como ciclista mas também como pessoa. Estou-lhes grato e ter duas pessoas da terra na mesma equipa ajuda a passar melhor o tempo das viagens e de alguma forma a matar saudades.

NF - Sendo bastante novo qual é a sua ambição como ciclista?

Para já, sei que vou ter pela frente mais uns anos de aprendizagem e de trabalho em prol dos chefes de fila e ver até que ponto ganho a ambição necessária para seguir em frente ou mesmo abandonar. É verdade que tudo isto depende de vários factores conjugados, os quais são importantes para manter a ambição. Sinto-me bastante motivado para 2016 e estou a preparar a temporada como nunca tinha feito antes.

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