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quarta-feira, 16 de junho de 2021

Entrevista | João Miguel (Ribera Navarra) um caso raro de evolução no futsal nacional

POR: JOÃO CARLOS LOPES  | FOTOS: DR

Nome: João Miguel Barros Soares

Idade: 29

Profissão: Jogador Profissional de Futsal

Posição: Pivô

Clube actual: Ribera Navarra FS

Currículo desportivo: AD Fafe (Distrital e 2.ª Divisão Nacional), Bovalino Calcio A5 (Serie B - Itália), SC Braga (I Divisão Nacional), Rio Ave (2.ª Divisão Nacional), Candoso (1.ª Divisão Nacional).

"É normal aspirar a uma convocatória para a Seleção"

Aos 29 anos muitos desportistas já tinham dado tudo o que podiam e abandonado as modalidades que praticavam. Por isso mesmo é que João Miguel, que recentemente trocou o CR Candoso, onde foi o melhor marcador da fase regular da Liga Placard de Futsal, pelos espanhóis do Ribera Navarra, que figura entre as oito melhores do futsal espanhol, é um fenómeno desportivo. Chegou ao futsal em 2016/17 através dos campeonatos distritais e desde aí para cá não tem parado de evoluir e de surpreender. Se faz o que quer com a bolas nos pés, sendo exímio a jogar de costas para a baliza na posição de pivô também utiliza a cabeça para se manter ligado à terra e saber de onde vem e para onde quer ir, sem perder a noção da sua origem e da realidade desportiva em que tudo pode mudar de um momento para o outro, pois sabe que o sucesso e o insucesso andam de mãos dadas. Contudo, isso não lhe tira a vontade, nem a ambição de perseguir os seus sonhos. É disso e de outras coisas que nos fala nesta entrevista.        

Que balanço faz da última época? 

- Coletivamente atingimos o objetivo proposto inicialmente pela direção e a nível pessoal superou todas as expectativas, conseguindo fazer algo muito difícil e que muito me orgulha.

Como tem sentido a sua evolução na modalidade?

- Tem sido ascendente, de forma bastante segura e com objetivos bem definidos. Não me esqueço de onde vim, mas sei seguramente para onde quero ir.

Ser o melhor marcador da fase regular da Liga Placard deu-lhe visibilidade?

- Obviamente. Não me lembro dos últimos anos de algum jogador que não jogasse no Benfica ou Sporting conseguir algo assim e isso motiva-me e faz-me acreditar que tenho potencial na modalidade.

Considera que teve no Candoso as oportunidades que não lhe deram no Braga?

- No Candoso trataram-me como se fosse da casa e isso deu-me a confiança necessária para me tornar num elemento útil e até chave em alguns momentos para alcançar os objetivos do clube.

Jogar no Ribera Navarra é a sua porta de entrada na Liga de Espanha?

- Para quem não está dentro da modalidade pode não entender o que é jogar na 1.ª Divisão espanhola, mas estamos a falar da melhor e mais profissional liga do mundo, onde passaram todos os melhores jogadores da modalidade e eu estou orgulhoso por poder em tão pouco tempo e sem formação chegar a um patamar destes. Neste momento só atuam 2 jogadores portugueses em Espanha, o André Coelho e o Edu Sousa, ambos internacionais e já passaram por lá o nosso melhor do Mundo Ricardinho, o Cardinal, o Joel Queirós, entre outros, portanto, falamos do expoente máximo da modalidade.

Como acha que vai ser a sua adaptação a uma nova realidade?

Muitas dificuldades me esperam, será um desafio aliciante, mas como sempre sinto-me preparado para ele, caso contrário não teria aceite. 

Já seguia o desenvolvimento do campeonato espanhol? 

Sim, acompanho sempre pelo menos os playoffs, onde por exemplo este ano a equipa do Edu Sousa (8.º classificado) eliminou o primeiro classificado da fase regular (El Pozo Murcia). Competitividade ao mais alto nível.

Sabe, portanto, naquilo que se vai meter?

Sim, claro, não sei é se eles estão preparados para o que vai daqui (eheh).

Daquilo que conhece do Futsal português acha que tem lugar na Seleção Nacional?   

Temos muita qualidade na nossa seleção e ir à seleção é algo para os melhores do País. Não tenho opinião sobre achar que tenho ou não lugar, mas sei que quero ir e vou continuar a trabalhar para alcançar esse objetivo, até porque fui o melhor marcador do campeonato, logo é normal aspirar a uma convocatória. Caso não aconteça já, não se tornará uma obsessão, apenas tenho de continuar o meu trajeto ascendente e naturalmente as coisas acontecerão. 

A quê ou a quem deve a sua mudança do futebol para o futsal?

João Nuno Sousa e Filipe Ferreira (diretor na altura da AD Fafe Futsal), são certamente as pessoas que mais me marcaram tanto na vida futsalistica como pessoal.

Pela sua experiência como caracteriza as duas modalidades (Futebol e Futsal).

Futebol – Desporto Rei 

Futsal – Modalidade Rainha cada vez mais em ascensão e que terá o verdadeiro “boom” quando ser tornar modalidade Olímpica.

Fafe tem espaço para ter duas equipas de futsal nos campeonatos nacionais?

Tanto no Futsal como no Futebol, a cidade de Fafe tem condições e adeptos apaixonados por Desporto para ter equipas nos patamares mais altos nacionais, quer a AD Fafe, quer o Grupo Nun’Álvares.

Como vivia os dérbis com o GNA quando jogava na AD Fafe?

Jogos especiais onde as amizades ficavam fora do pavilhão. Eram dérbis intensos, agressivos, sempre de pavilhão cheio, mas onde sempre reinou o respeito pela nossa cidade.

Considera a rivalidade saudável para a evolução da modalidade no Concelho?

Obviamente, as instituições só evoluem com rivalidade, julgo que é natural em tudo na vida, porque é instigada a capacidade de superação.

Aos 29 anos que memórias já tem guardadas para a vida da sua vivência no desporto?

Tenho muitas memórias positivas no Desporto, desde a natação até ao Futsal, mas o que mais tento ser todos os dias é ser um agente do Desporto. Fazer entender às pessoas e aos miúdos essencialmente que o Futuro está na Educação e no Desporto. O Desporto desenvolve capacidades mecânicas e cognitivas importantes, estimulando também o espirito coletivo, espírito de sacrifício e superação que são úteis em tudo o resto nas nossas vidas.

Na sua ótica Fafe carece de infraestruturas para o desenvolvimento da modalidade ou as existentes são suficientes?

Sim, essa é a minha opinião. A nossa cidade merece que as pessoas ligadas ao Desporto sejam mais proactivas, porque não é só Futebol ou Futsal. Há na nossa cidade grupos de jovens com bastante aptidão para o Desporto que muitas vezes têm de sair da cidade para praticar certas modalidades porque aqui não estão em patamares que deveriam estar. 

Qual o momento positivo mais marcante da sua vida desportiva?

O próximo. Não olho para trás nem me agarro a coisas que já fiz até porque o Desporto é o momento. O sucesso e o insucesso andam de mãos dadas. Hoje sou o melhor marcador do campeonato português que veio da distrital e é um exemplo para todos, mas amanhã se não corresponder serei o João Miguel que teve sorte em fazer 32 golos no máximo escalão da modalidade. 

E o momento negativo mais marcante? 

Já tive algumas deceções, mas penso que foi o facto desta época não poder ter nenhuma das pessoas que mais gosto na vida nas bancadas a celebrarem comigo.

Até que idade pensa que pode jogar futsal ao mais alto nível?

Até me sentir útil nos clubes que represento. Quando não conseguir desempenhar um papel importante e ajudar a equipa, irei abandonar.

Além de uma possível ida à Seleção Nacional o que mais o faz sonhar no Futsal?

Tenho alguns objetivos por concretizar: Ganhar um troféu internacional com um clube e com a seleção nacional; Ser Campeão Nacional; Jogar Liga dos Campeões.

A quem dedica os seus golos? 

Os meus golos são dedicados à minha avó [Sãozinha] que já faleceu. Tenho a certeza que se estivesse cá teria muito orgulho em mim e era um prémio por todas as vezes que lhe chateei a cabeça a chutar bolas dentro e fora de casa dela (eheh). São também dedicados a toda a minha família, especialmente Pais e Irmão e a todos os meus amigos que sempre me apoiaram na minha carreira. 

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