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quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Entrevista | António Pereira o mecânico de Fafe que esteve no Dakar 2020

TEXTO: JOÃO CARLOS LOPES | FOTOS: DR


Uma paixão que já afecta o seu filho Marco

António Pereira, conhecido como Tony Francês nas competições e entre amigos, tem 46 anos, é um fafense, apesar de ter nascido em França, que tem percorrido o mundo a dar apoio mecânico em várias provas de competição, ultimamente ao serviço da equipa de mecânicos francesa Off Road Techonolgy, com a qual cumpriu o sonho de estar no Rali Dakar, o qual culminou com a vitória do piloto apoiado pela equipa na categoria de Rookie. O gosto pela mecânica nasceu consigo, mas não irá morrer consigo, pois, o seu filho Marco, já o acompanha na oficina e em algumas provas a nível nacional. A experiência acumulada ao longo dos anos permitiu-lhe abrir uma oficina a Rotações Car e apesar de já ter participado em quase todo o tipo de provas de automóveis não virará a cara a um novo desafio que lhe possa aparecer pela frente. 


Como surgiu o gosto pela mecânica?

Na minha família não havia qualquer ligação ao desporto automóvel ou à mecânica. Isto nasceu mesmo comigo. Desde criança que comecei a desmontar carros de brincar e tentava montá-los. Também sempre tive curiosidade de ver na televisão tudo o que estava relacionado com os automóveis. Mais tarde, com 14 anos, tirei um curso de mecânico de automóveis enquanto estudava ao mesmo tempo, terminei-o com 18 anos e como tinha habilidade, a empresa que que o estava a ministrar deu-me emprego. Mantive-me nessa empresa até aos 22 anos, altura em que vim para Portugal. 


O que aconteceu quando veio para Portugal? 

Vim trabalhar para o Senhor Magalhães Bosch (Fafe) e mais tarde ingressei na Wolksvagen, na Machado & Costas, em Guimarães, onde permaneci dois anos, mudando de seguida para a Cardan para trabalhar com carros da Peugeot e na sequência disso recebi o convite para ingressar na Peugeot Sport Portugal, isto em 1999, o qual aceitei e onde me mantive durante dez anos. 


Como chegou a mecânico de provas de competição?

Começou quando estava em França, com 17 anos, quando recebi um convite de um piloto amador para o ajudar em termos mecânicos e dei-lhe assistência até vir para Portugal em 1996. Já em Portugal, dei assistência ao piloto fafense Luís Moniz, ao amarantino Vítor Pascoal e foi então que ingressei na equipa Peugeot Sport Portugal onde trabalhei com o Adruzilo Lopes, Miguel Campos e Bruno Magalhães. Seguiu-se uma incursão no GP 2 (categoria abaixo da Fórmula 1), para dar assistência ao Álvaro Parente. Depois, dois anos na Veloso Motosport que dava assistência a vários pilotos no Campeonato Nacional e Ibérico de GT (Grande Turismo) cujos carros eram um Aston Martim GT4 e um Laborginni. 


Como surgiu a sua própria empresa, Rotações Car?

A Rotações Car apareceu depois de ter ganho experiência em todas as equipas e competições que mencionei, pois senti-me confiante em trabalhar por conta própria. A partir daí, além de trabalhar na minha oficina, faço prestações de serviço para outras empresas como mecânico, principalmente em competições automóveis.


Em que competições já prestou assistência?

Em muitas, desde o Campeonato Nacional de Ralis, GP2, Campeonato Nacional de Todo o Terreno, Campeonato da Europa de Ralis na qual fomos vice-campeões da Europa pela Peugeot Sport Portugal, Campeonato Nacional de França de Ralis (pela Opel Motorsport), Blak Pain (Campeonato Mundial de GT), Off Road Techonolgy, Sport And You (Campeonato Nacional de Portugal de Ralis) e PRK Sport (Campeonato Nacional de Todo o Terreno) e entre muitas outras o Rali Dakar. 


Certamente que alguns pilotos o marcaram?

Foi um prazer trabalhar no GP2 com o Tiago Monteiro e ser Campeão Nacional de Rali de iniciados com o Pedro Meireles/António Abreu quando este foi campeão nacional de Iniciados que por coincidência foi o primeiro título de ambos (dele e meu como mecânico) no desporto motorizado. No entanto, tenho que reconhecer que todos os pilotos com quem trabalhei, de uma forma ou de outra contribuíram para a minha evolução como mecânico.


E para que outros títulos contribuiu?

Foram tantos que é impossível enumerar. No entanto recordo-me de vários campeonatos nacionais de rali e o vice-campeonato da europa de Rali, este com o Miguel Campos em 2003 em Peugeot 206 WRC. Também campeões de Blak Pain, vencedor do Troféu Mazda, entre muitos outros títulos e dezenas de provas individuais. A última das quais a categoria Rookie do Rali Dakar 2020. 


Como surge o convite para o Dakar?

Como já trabalho há vários anos com a Off Road Tecnohlogy, já tínhamos trabalhado na preparação de vários carros para outras edições do Rali Dakar mas nunca tinha surgido a possibilidade de dar assistência directa em prova, a qual surgiu este ano pelo convite do chinês Jianyun Jin, navegado por Wenke Ma.


Devido aos acontecimentos neste Dakar a sua estreia também foi um misto de alegria e tristeza?

Sem dúvida que sim. Alegria por estar presente na prova mais dura do mundo do desporto motorizado na qual correu tudo bem à equipa a quem dávamos assistência, pois Jianyun Jin concluiu a prova com apenas 30 segundos de penalização, tendo ficado em 1.º lugar dos estreantes e um muito honroso 22.º lugar da geral, tudo fruto do trabalho colectivo. Aliás ficou no ar a possibilidade de regressar com um projecto mais ambicioso. As duas mortes que assombraram este rali, uma delas a do português Paulo Gonçalves, deixaram-me triste e abalado. Contudo quem anda nestas provas sabe que o risco está inerente às mesmas. 


Já está a passar o gosto pela mecânica para o seu filho? 
Por ironia a cadeia da mecânica começou em mim e parece que vai ter continuidade, pois o meu filho Marco também se interessa pelo desporto motorizado e tem passado longo tempo na minha oficina a tentar colocar em prática o que tem andado a aprender no curso de mecânica que está a tirar. Mas, ao que me apercebo será só a ponta do iceberg porque o interesse dele passa mesmo por tirar um curso de engenharia mecânica desportiva. Como pai sinto-me orgulhoso do meu filho seguir as minhas pisadas e vou apoiá-lo em tudo o que puder. 


Onde gostava de chegar como mecânico?

De um modo geral, já atingi mais do que aquilo que alguma vez imaginei. Contudo não virarei as costas a qualquer desafio diferente, nesta área, que me possa surgir. O meu grande sonho era estar presente numa edição do Rali Dakar e esse foi alcançado este ano, com o apoio Preparou-se afincadamente para esta competição com o apoio do Ginásio Play Fitness e da Fafeaccess Máquinas e Acessórios Unipessoal Lda e ao serviço da Off Road Techonolgy.

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