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sexta-feira, 18 de setembro de 2020

OPINIÃO | É bonito trazer a Volta a Portugal mas mais era reparar a Ciclovia

POR: JOÃO CARLOS LOPES
 
Seria muito bom e custa tão pouco 

Fafe é um concelho com tradição na recepção à Volta a Portugal ainda que, de uns anos para cá, a passagem da caravana velocipédica pela nossa terra tem deixado muito a desejar com os contra-relógios e partidas. O povo gosta é da emoção da chegada no empedrado, de bater na publicidade das barreiras como quem está a dar energia aos corredores e de sentir a emoção da luta pela vitória como se fizesse parte da corrida e levantasse os braços ao mesmo tempo do vencedor. Gosta de ver um ciclista fafense na prova e ficar arrepiado pela sua vontade de querer honrar os conterrâneos mesmo que vá no limite das suas forças.  

Contudo, mais importante que isso, o ciclismo em Fafe não se cinge só à passagem da Volta a Portugal que se estende por um único dia mas sim à sua prática, a qual é feita por centenas de pessoas que utilizam a maior obra desportiva do concelho do Século XX, para darem umas pedaladas, a Pista de Cicloturismo que aproveitou a antiga linha do Caminho de Ferro entre Fafe e Guimarães.  

Como amante de Ciclismo e praticante de cicloturismo, frequentador assíduo da aludida Pista, custa-me entender como se gastam dezenas de milhares de euros, ou talvez mais, a patrocinar uma prova que nos últimos anos, pelas razões invocadas, nem tem trazido emoção, quando, por falta de manutenção do piso a Pista de Cicloturismo que está cheia de rugas e outras deficiências, como falta de barreiras laterais em locais altos, tem "patrocinado" involuntariamente quedas que, em alguns casos, têm levado os ciclistas ao hospital obrigando à presença dos bombeiros no local. Além disso, é preciso sensibilizar quem remenda para o facto de que bicicletas não são carros. É que alguns dos "chapos" já feitos estão mais altos que o piso normal provocando irregularidades involuntárias, sendo por vezes pior a emenda que o soneto.  

Nesta altura em que, além da falta de emoção devido às escolhas do tipo de etapas, o publico nem pode desfrutar verdadeiramente da prova neste contexto de pandemia, o que é mais importante? Zelar pela saúde física e mental dos munícipes e de quem nos visita através da Pista de Cicloturismo, que não são tão poucos como isso (no último domingo até às 13 horas tinham entrado 570 ciclistas na pista em Mesão Frio) ou acorrer à saúde financeira de uma prova de um dia?  

Se fosse possível ter as duas coisas quanto melhor, seria ouro sobre azul. Mas, colocar  sempre primeiro e em condições aquilo que serve os munícipes diariamente e não andar a tapar o sol com a peneira. Gostar de ciclismo não devia ser só ter a possibilidade de dizer duas coisas na TV, gostar de ciclismo devia ser proporcionar às pessoas a sua prática com o mínimo de riscos possíveis, o que, de momento, não é o caso na nossa Pista de Cicloturismo. Quem tem bicicletas de estrada e não só sabe bem do que falo, além das inúmeras crianças e de idosos que também frequentam a pista.  

Não temos nada contra a Volta a Portugal, pelo contrário, mas tudo pela defesa da nossa terra e da saúde dos praticantes de ciclismo que no nosso Concelho já é transversal a todas as idades e a ambos os sexos. Com a pista em condições que venham todas as Voltas a Portugal, até lá preferimos não ter Volta em troca do melhoramento do piso da nossa ciclovia, que ficaria por apenas alguns milhares de euros.  

Já agora porque não investir noutras infraestruturas do género, levar a ecovia até às escolas, conforme foi peticionado, criar outras alternativas à Pista de Cicloturismo, começando já pelo "Corredor Verde", entre Pardelhas e a Fábrica do Ferro, explorando as margens do Rio Ferro e quiçá, mais tarde, prolongar esse corredor ao longo do rio até às margens do Vizela, ligando à pista já existente. Nada é impossível, o que é necessário é dar o primeiro passo porque depois o caminhando faz-se caminhando, nada aparece feito de repente.           

Melhor do que ver ciclismo é praticá-lo!

1 comentário:

Nuno disse...

Muito se poderia fazer pela ciclovia, desde pontos de água nas zonas mais afastadas, iluminação para quem só pode usufruir da pista em horas mais tardias, um ponto de ferramentas estrategicamente colocado, assim como na entrada em mesão frio, e sim, a reparação urgente do asfalto que muitos perigos tem colocado aos utentes. Com a pandemia, a prática do exercício físico tornou-se quase obrigatória outdoor, mas, infelizmente, o executivo municipal vive de aparências e medidas elitistas, com a grande finalidade de promoção pessoal. Seria esperar muito. Parabéns pelo artigo. Grande abraço.