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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Entrevista a Zé Marçal, guarda-redes da AD Fafe

Texto e fotos: João Carlos Lopes 

“Sinto-me muito orgulhoso de ter atingido este patamar”

É preciso recuar muitos anos para ver um caso idêntico ao do guarda-redes José Marçal da Silva Lago (Zé Marçal), que ascendeu da equipa de Juniores da AD Fafe e sem precisar de passar por outro Clube, em três anos, agarrou a titularidade da equipa fafense. Actualmente com 21 anos e tendo como referência os seus irmãos, Cláudio e Fábio, que também passaram pelas balizas dos Juniores da AD Fafe, Zé Marçal mostra ambição para o futuro e cautelas no presente. Curiosamente o seu pai, Marçal Lago, também representou a AD Fafe, oriundo dos juniores do FC Porto, mas como avançado, sendo conhecido por ser um terror para os guarda-redes com o seu pé canhão. Aliás Zé, foi o único que herdou o nome de Marçal do pai. Fez a sua formação nas escolas dos Ases de S. Jorge até ao primeiro ano de Juvenis, representando a partir daí a AD Fafe continuamente. É um jovem a quem lhe é reconhecido valor na sua posição e que até já recebeu convites doutros Clubes mas preferiu ficar a amadurecer em Fafe, alimentando até o sonho de chegar a uma liga profissional com as cores da AD Fafe. Numa era em que os guarda-redes escasseiam pelo país e pela europa fora, Zé Marçal já é um exemplo e uma referência na baliza.   
        

Praticou ou gostava de ter praticado mais algum desporto além do futebol?

Quando tinha cerca de seis anos pratiquei a modalidade de Hóquei em Patins, no Grupo Nun’Álvares, sendo verdade que na altura era apenas uma fase de aprendizagem e apenas treinava. Pratiquei essa modalidade por influência dos meus irmãos mais velhos que já lá andavam.

Qual foi o seu percurso como guarda-redes?
Não comecei a praticar futebol como guarda-redes mas sim como defesa nas escolinhas dos Ases de S. Jorge, onde me iniciei com cinco anos e aos oito mudei para a baliza também por influência dos meus irmãos, Cláudio e Fábio que já eram guarda-redes.

Como guarda-redes sempre foi titular nas camadas jovens?
Por acaso é uma das coisas que me orgulha no meu percurso da formação foi ter sido sempre titular na baliza. Posso dizer até que joguei sempre um ano acima do meu escalão, o que me deixava sempre muito agradado.

Acha que se perderem muitos atletas promissores no seu percurso da formação? Porquê?
No meu trajecto na formação convivi e partilhei o balneário com jogadores de grande talento, isto na minha perspectiva, que ainda estou a dar os primeiros passos como sénior no futebol e tenho muito que aprender. Sei também que uns por vontade própria não investiram na sua carreira, outros tiveram que optar pela universidade ou seguir outros caminhos.  

Qual a melhor recordação que guarda da sua formação?
Sem dúvida que o meu primeiro ano de júnior na AD Fafe me marcou para toda a vida. Tínhamos um grupo fantástico, uma enorme ambição de vencer e nunca virávamos a cara à luta. Tenho bem fresco na memória um jogo que fizemos em casa contra o Barroselas em que aos 90 minutos estávamos a perder 1-0 e em três minutos de compensação demos a volta ao jogo e acabamos por vencer 2-1. Também os treinadores Miguel Paredes e Sérgio Ribeiro me influenciaram a mim e a todos os colegas de uma forma muito positiva pela maneira com que souberam lidar connosco e por todo o carinho que nos demonstraram. Pessoalmente posso dizer que é graças a eles que cheguei onde me encontro agora.  

E o pior momento?
O pior momento posso dizer que também foi nessa época de 2009/2010 quando perdemos no Estádio do Bessa, contra o Boavista, por uma bola a zero nos últimos minutos do jogo quando o empate nos permitiria sonhar com a subida à primeira divisão, o que seria um momento histórico na vida do Clube e de todos nós. Infelizmente, encontramos um ambiente hostil em que ainda me recordo de terem rebentado dois petardos junto ao banco de suplentes do Fafe e dos constantes insultos à comitiva fafense. Sentimo-nos verdadeiramente intimidados nesse jogo.      

Como se sente um jovem de 21 anos ao agarrar a titularidade de uma equipa com os pergaminhos do Fafe?
Sinto-te muito orgulhoso de ter atingido este patamar que sei que não é fácil para um jogador que veio da formação e numa posição tão específica como é a dos guarda-redes que também sei que não abundam no nosso país. Posso dizer que treinei e joguei várias vezes ao longo deste meu percurso em campos pelados e que agora alguns jovens têm a vida mais facilitada com o aparecimento dos campos sintéticos. Não foi fácil chegar à titularidade, foi preciso saber esperar pela minha vez, trabalhando sempre da mesma forma para na hora certa poder merecer a confiança do treinador.    

Sabe quem foi o último guarda-redes de Fafe a ser titular pela AD Fafe?
Aquele que me recordo melhor é do Coelho que por acaso até foi meu treinador no meu segundo ano de Juvenil já no Fafe. Tenho noção que não é fácil vir da formação e singrar nos seniores. Estou grato a esta equipa técnica, a Agostinho Bento e Professor Frederico Ricardo, por terem apostado em mim e me terem dotado dos conhecimentos necessários para agora poder ocupar a baliza.   

É verdade que para se ser guarda-redes é preciso ter alguma dose de loucura?
A posição de guarda-redes é um bocado ingrata. Desde a responsabilidade que recai sobre nós quando entra um golo, aos choques físicos, muitas vezes casuais, que acontecem nos jogos. Por um lado estão os avançados com uma vontade sedenta de marcar golos e por outro o guarda-redes em querer fazer o seu melhor. Normalmente é nas bolas paradas que é preciso estar com os níveis de alerta no máximo e não ter medo da confusão que por vezes se instala nesses lances, em que a missão de alguns jogadores é apenas e somente a de incomodar o guarda-redes para facilitar a vida aos colegas para marcarem golos.    
Para si o que faz de um atleta um bom guarda-redes?
Na realidade actual do futebol um bom guarda-redes tem que ser quase perfeito. Tem que ser rápido a sair dos postes, escolher a colocação certa, ter uma boa leitura do jogo pois por vezes funciona como líbero e precisamente por isso saber jogar bem com os pés, entre outras exigências. Estou a trabalhar para tentar atingir o nível máximo em cada um destes e doutros patamares que a minha posição exige. 

Quem é a sua fonte de inspiração, o seu ídolo?
Os meus grandes ídolos são os meus irmãos Cláudio e Fábio. É graças a eles que eu hoje estou na baliza. Habituei-me a vê-los defender desde pequenos. Recordo-me do Cláudio ter sido campeão distrital de Juniores pela AD Fafe e isso marcou-me muito pois ainda tenho vivo na memória os festejos desse dia e a felicidade com que o meu irmão chegou a casa.  

O que pensa de o seu pai ter sido avançado e todos os filhos terem sido guarda-redes?
Pelo que me contam o meu pai tinha um pontapé canhão que atormentava os guarda-redes e sei também que marcava muitos golos. Não tenho explicação para o facto de eu e os meus irmãos termos optado pela balizada. Sei que é uma situação caricata pois nenhum de nós quis ser avançado como o nosso pai. Mas agora sei o que sentiam os guarda-redes naquela altura em que as bolas era bem mais pesadas que as de agora.    

Sabemos que esta época teve convites de outros Clubes. Porque ficou no Fafe?
Acima de tudo sou um homem de palavra e como já me tinha comprometido com o Fafe nada mais havia a fazer que não fosse cumpri-la. Por outro lado quero contribuir para o engrandecimento do Clube com o meu trabalho e dedicação como forma de agradecimento por terem apostado em mim.

Como avalia a prestação da equipa até ao momento?
Na minha opinião fizemos uma boa primeira fase em que terminamos como melhor defesa da nossa série e uma das melhores de todo o Campeonato Nacional de Seniores. Por ter sido um dos guarda-redes menos batido só posso estar grato a toda a equipa porque sem eles o meu trabalho de nada valia e temos que pensar sempre como um todo pois só assim revelaremos a grande união que existe neste grupo.    


Onde pensa que pode chegar o Fafe esta época?
Depois de termos atingido a fase de subida não podemos baixar os braços pois todos nós temos pelo menos a ambição de fazer o melhor possível pelo Clube. Se isso acontecer também temos a certeza que nos estamos a valorizar a nós próprios. Como tal, uma vez que estamos neste patamar, só podemos pensar no que está acima e isso implica a subida à II Liga. 

E o José Marçal onde quer chegar como guarda-redes?
Em primeiro lugar quero pensar nesta fase competitiva que vamos disputar, na qual desejo que tenhamos o maior sucesso. Pessoalmente gostava de ir subindo patamares como guarda-redes, sabendo que ainda tenho muito que aprender e uma vontade enorme de trabalhar para poder evoluir e quem sabe um dia chegar às Ligas profissionais. Se isso acontecer com a camisola da AD Fafe seria a maior alegria que poderia ter.


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