“Sinto-me muito orgulhoso
de ter atingido este patamar”
É
preciso recuar muitos anos para ver um caso idêntico ao do guarda-redes José
Marçal da Silva Lago (Zé Marçal), que ascendeu da equipa de Juniores da AD Fafe
e sem precisar de passar por outro Clube, em três anos, agarrou a titularidade
da equipa fafense. Actualmente com 21 anos e tendo como referência os seus
irmãos, Cláudio e Fábio, que também passaram pelas balizas dos Juniores da AD
Fafe, Zé Marçal mostra ambição para o futuro e cautelas no presente.
Curiosamente o seu pai, Marçal Lago, também representou a AD Fafe, oriundo dos
juniores do FC Porto, mas como avançado, sendo conhecido por ser um terror para
os guarda-redes com o seu pé canhão. Aliás Zé, foi o único que herdou o nome de
Marçal do pai. Fez a sua formação nas escolas dos Ases de S. Jorge até ao
primeiro ano de Juvenis, representando a partir daí a AD Fafe continuamente. É
um jovem a quem lhe é reconhecido valor na sua posição e que até já recebeu
convites doutros Clubes mas preferiu ficar a amadurecer em Fafe, alimentando
até o sonho de chegar a uma liga profissional com as cores da AD Fafe. Numa era
em que os guarda-redes escasseiam pelo país e pela europa fora, Zé Marçal já é
um exemplo e uma referência na baliza.
Praticou
ou gostava de ter praticado mais algum desporto além do futebol?
Quando tinha cerca de seis
anos pratiquei a modalidade de Hóquei em Patins, no Grupo Nun’Álvares, sendo
verdade que na altura era apenas uma fase de aprendizagem e apenas treinava.
Pratiquei essa modalidade por influência dos meus irmãos mais velhos que já lá
andavam.
Qual
foi o seu percurso como guarda-redes?
Não comecei a praticar
futebol como guarda-redes mas sim como defesa nas escolinhas dos Ases de S.
Jorge, onde me iniciei com cinco anos e aos oito mudei para a baliza também por
influência dos meus irmãos, Cláudio e Fábio que já eram guarda-redes.
Como
guarda-redes sempre foi titular nas camadas jovens?
Por acaso é uma das coisas
que me orgulha no meu percurso da formação foi ter sido sempre titular na
baliza. Posso dizer até que joguei sempre um ano acima do meu escalão, o que me
deixava sempre muito agradado.
Acha
que se perderem muitos atletas promissores no seu percurso da formação? Porquê?
No meu trajecto na
formação convivi e partilhei o balneário com jogadores de grande talento, isto
na minha perspectiva, que ainda estou a dar os primeiros passos como sénior no
futebol e tenho muito que aprender. Sei também que uns por vontade própria não
investiram na sua carreira, outros tiveram que optar pela universidade ou
seguir outros caminhos.
Qual
a melhor recordação que guarda da sua formação?
Sem dúvida que o meu
primeiro ano de júnior na AD Fafe me marcou para toda a vida. Tínhamos um grupo
fantástico, uma enorme ambição de vencer e nunca virávamos a cara à luta. Tenho
bem fresco na memória um jogo que fizemos em casa contra o Barroselas em que
aos 90 minutos estávamos a perder 1-0 e em três minutos de compensação demos a
volta ao jogo e acabamos por vencer 2-1. Também os treinadores Miguel Paredes e
Sérgio Ribeiro me influenciaram a
mim e a todos os colegas de uma forma muito positiva pela maneira com que
souberam lidar connosco e por todo o carinho que nos demonstraram. Pessoalmente
posso dizer que é graças a eles que cheguei onde me encontro agora.
O pior momento posso dizer
que também foi nessa época de 2009/2010 quando perdemos no Estádio do Bessa,
contra o Boavista, por uma bola a zero nos últimos minutos do jogo quando o
empate nos permitiria sonhar com a subida à primeira divisão, o que seria um
momento histórico na vida do Clube e de todos nós. Infelizmente, encontramos um
ambiente hostil em que ainda me recordo de terem rebentado dois petardos junto
ao banco de suplentes do Fafe e dos constantes insultos à comitiva fafense.
Sentimo-nos verdadeiramente intimidados nesse jogo.
Como
se sente um jovem de 21 anos ao agarrar a titularidade de uma equipa com os
pergaminhos do Fafe?
Sinto-te muito orgulhoso
de ter atingido este patamar que sei que não é fácil para um jogador que veio
da formação e numa posição tão específica como é a dos guarda-redes que também
sei que não abundam no nosso país. Posso dizer que treinei e joguei várias
vezes ao longo deste meu percurso em campos pelados e que agora alguns jovens
têm a vida mais facilitada com o aparecimento dos campos sintéticos. Não foi
fácil chegar à titularidade, foi preciso saber esperar pela minha vez,
trabalhando sempre da mesma forma para na hora certa poder merecer a confiança
do treinador.
Sabe
quem foi o último guarda-redes de Fafe a ser titular pela AD Fafe?
Aquele que me recordo
melhor é do Coelho que por acaso até foi meu treinador no meu segundo ano de
Juvenil já no Fafe. Tenho noção que não é fácil vir da formação e singrar nos
seniores. Estou grato a esta equipa técnica, a Agostinho Bento e Professor
Frederico Ricardo, por terem apostado em mim e me terem dotado dos
conhecimentos necessários para agora poder ocupar a baliza.
A posição de guarda-redes
é um bocado ingrata. Desde a responsabilidade que recai sobre nós quando entra
um golo, aos choques físicos, muitas vezes casuais, que acontecem nos jogos.
Por um lado estão os avançados com uma vontade sedenta de marcar golos e por
outro o guarda-redes em querer fazer o seu melhor. Normalmente é nas bolas
paradas que é preciso estar com os níveis de alerta no máximo e não ter medo da
confusão que por vezes se instala nesses lances, em que a missão de alguns
jogadores é apenas e somente a de incomodar o guarda-redes para facilitar a
vida aos colegas para marcarem golos.
Para
si o que faz de um atleta um bom guarda-redes?
Na realidade actual do
futebol um bom guarda-redes tem que ser quase perfeito. Tem que ser rápido a
sair dos postes, escolher a colocação certa, ter uma boa leitura do jogo pois
por vezes funciona como líbero e precisamente por isso saber jogar bem com os
pés, entre outras exigências. Estou a trabalhar para tentar atingir o nível
máximo em cada um destes e doutros patamares que a minha posição exige.
Quem
é a sua fonte de inspiração, o seu ídolo?
Os meus grandes ídolos são
os meus irmãos Cláudio e Fábio. É graças a eles que eu hoje estou na baliza.
Habituei-me a vê-los defender desde pequenos. Recordo-me do Cláudio ter sido
campeão distrital de Juniores pela AD Fafe e isso marcou-me muito pois ainda
tenho vivo na memória os festejos desse dia e a felicidade com que o meu irmão
chegou a casa.
Pelo que me contam o meu
pai tinha um pontapé canhão que atormentava os guarda-redes e sei também que
marcava muitos golos. Não tenho explicação para o facto de eu e os meus irmãos
termos optado pela balizada. Sei que é uma situação caricata pois nenhum de nós
quis ser avançado como o nosso pai. Mas agora sei o que sentiam os guarda-redes
naquela altura em que as bolas era bem mais pesadas que as de agora.
Sabemos
que esta época teve convites de outros Clubes. Porque ficou no Fafe?
Acima de tudo sou um homem
de palavra e como já me tinha comprometido com o Fafe nada mais havia a fazer
que não fosse cumpri-la. Por outro lado quero contribuir para o engrandecimento
do Clube com o meu trabalho e dedicação como forma de agradecimento por terem
apostado em mim.
Como
avalia a prestação da equipa até ao momento?
Na minha opinião fizemos
uma boa primeira fase em que terminamos como melhor defesa da nossa série e uma
das melhores de todo o Campeonato Nacional de Seniores. Por ter sido um dos
guarda-redes menos batido só posso estar grato a toda a equipa porque sem eles
o meu trabalho de nada valia e temos que pensar sempre como um todo pois só assim
revelaremos a grande união que existe neste grupo.
Onde
pensa que pode chegar o Fafe esta época?
Depois de termos atingido
a fase de subida não podemos baixar os braços pois todos nós temos pelo menos a
ambição de fazer o melhor possível pelo Clube. Se isso acontecer também temos a
certeza que nos estamos a valorizar a nós próprios. Como tal, uma vez que
estamos neste patamar, só podemos pensar no que está acima e isso implica a
subida à II Liga.
E
o José Marçal onde quer chegar como guarda-redes?
Em primeiro lugar quero
pensar nesta fase competitiva que vamos disputar, na qual desejo que tenhamos o
maior sucesso. Pessoalmente gostava de ir subindo patamares como guarda-redes,
sabendo que ainda tenho muito que aprender e uma vontade enorme de trabalhar
para poder evoluir e quem sabe um dia chegar às Ligas profissionais. Se isso
acontecer com a camisola da AD Fafe seria a maior alegria que poderia ter.
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